Um dos clichés recentes é a ideia que o trabalho remoto veio para ficar. Em 2022, um estudo da McKinsey referia que 87% dos trabalhadores, especialmente os da chamada geração Z, preferiam estar em casa. Para alguns privilegiados o trabalho remoto pode mesmo representar o melhor de dois mundos: receber um salário mais alto de um país rico, mas poder morar em e trabalhar a partir de Portugal durante a maior parte do tempo.

Os psicólogos, segundo os quais as novas gerações procuram sobretudo um bom equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, aclamam esta forma de organização do trabalho e tecem loas ao acréscimo de produtividade que permite. Eliminam-se as distrações típicas dos escritórios e poupam-se horas de movimentos pendulares (72 minutos diários de acordo com um estudo do National Bureau of Economic Research) que reduzem o desgaste dos que nelas de outra foram participariam.

Sendo por enquanto apanágio de um pequeno grupo (18% do emprego total no início de 2023, segundo o INE), o lado negro do trabalho remoto é poder contribuir para acentuar a desigualdade que existe na sociedade. O “The Guardian” referia como, entre os britânicos, os principais beneficiados pelas regalias do trabalho remoto serem os ricos, os brancos e os habitantes de Londres, isto é, aqueles que à partida são já privilegiados.

E enquanto o encantamento perdura, a “The Economist” publicou um artigo revelando que afinal o trabalho remoto faz diminuir a produtividade, razão por que as empresas, mesmo as tecnológicas, iniciaram um movimento de regresso aos escritórios. A menor eficiência dos trabalhadores remotos estava mesmo documentada em estudos académicos, os primeiros de 2020, que estimam perdas de produtividade da ordem dos 20%.

Em teletrabalho, perde-se a proximidade. A colaboração diminui, os trabalhadores isolam-se, não desenvolvem as suas redes profissionais e a coordenação empobrece. A impossibilidade de mimetizar comportamentos compromete o desenvolvimento do capital humano e a qualificação.

Mas os trabalhadores serão mais felizes. Terão mais tempo para estar com os filhos, ir ao ginásio e a consultas médicas ou dormir uma pequena sesta e poderão até ganhar concentração, enquanto as empresas podem poupar em dimensão de escritórios e salários. Perante os novos factos, cederão as empresas aos caprichos hedonistas dos seus trabalhadores ou vencerá como habitualmente o produtivismo?