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Como um jovem médico se tornou líder de um grupo que quer mudar a sociedade

Francisco Goiana da Silva tinha menos de 30 anos quando recebeu um convite oficial para participar no Fórum Económico Mundial, em Davos. É médico, líder do do grupo de Lisboa do Global Shapers, e trabalha no Ministério da Saúde.
  • Cristina Bernardo
9 Abril 2017, 12h00

Nasceu no Porto, mas cresceu em Santo Tirso. Teve a sorte de frequentar um dos colégios mais antigos do país, o Colégio dos Jesuítas. “Essa foi uma feliz coincidência, que veio a ter um impacto muito importante nos valores e princípios que me foram desde cedo incutidos em casa e na escola, e que hoje fazem de mim um homem de convicções fortes”, diz Francisco Goiana da Silva, 27 anos, líder do grupo de Lisboa do Global Shapers.

O sucesso deste grupo baseia-se na capacidade de juntar pessoas muito diferentes, provenientes de áreas tão diversas como a Saúde e as Finanças, usando valores transversais como elo de ligação. “O grupo dos Global Shapers de Lisboa desenvolve, anualmente, um plano de atividades. De entre as atividades planeadas destacam-se as horizontais, em que todos os elementos participam ativamente, como é o caso da comemoração do Dia Mundial da Dignidade.

No âmbito deste projeto, os Shapers visitam escolas carenciadas do país para falar da importância da dignidade individual. Além do grande valor acrescentado que esta atividade traz aos estudantes, a verdade é que iniciativas conjuntas como esta unem o grupo. Crescemos mais enquanto equipa quando fazemos coisas acontecer em conjunto”, explica.

Para Francisco, o ponto alto foi, também, o convite oficial para participar no Fórum Económico Mundial, em Davos. “Tive a oportunidade de privar informalmente com alguns dos homens mais poderosos do mundo. Essa experiência mudou para sempre a minha forma de encarar as hierarquias. Hoje, acredito que a verdadeira liderança se faz pela entrega, pelo exemplo e pela humildade”, diz.

O interesse do jovem médico pela medicina surgiu tarde na vida. Foi depois de passar uma larga temporada hospitalizado e de ter sido salvo graças à grande qualidade dos médicos que o trataram que ficou fascinado com o poder da medicina. Não era um poder autoritário, era um poder modificador, baseado no conhecimento. “Acredito que muito dificilmente um jovem descobre a sua ‘vocação’ para a medicina antes de começar a interagir com doentes na vida real. Para muitos, essa interação apenas acontece já durante o curso. E para mim, não foi diferente.

“Como que num namoro, à descoberta, fui-me apaixonando pelas pequenas particularidades desta profissão. Até bem perto do final do curso, para mim, era óbvio que o meu percurso profissional passaria pela cirurgia pediátrica. No entanto, ouvi uma frase do papa Francisco que mudou para sempre a minha vida profissional e o rumo que viria a ter: ‘Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão. Devemos envolver-nos na política, porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, porque ela procura o bem comum’”.

No final do curso, e fascinado pelo poder modificador da política, decidiu candidatar-se a um estágio na Organização Mundial de Saúde (OMS). Queria experimentar na primeira pessoa como era estar no centro de decisão das políticas de saúde do mundo inteiro. Por um lado, integrar um dos departamentos da OMS permitiu-lhe perceber que, no panorama internacional, o Serviço Nacional de Saúde português era uma referência de “justiça social, qualidade e civilização”; por outro, desiludiu-o a “superficialidade com que os dinheiros internacionais eram tratados e atribuídos.”

Atualmente, Francisco desempenha funções de assessor do secretário de Estado Adjunto e da Saúde, no Ministério da Saúde. “As minhas responsabilidades diárias prendem-se com as áreas da inovação nas políticas de saúde. É uma batalha diária tentar trazer a um sistema, bastante envelhecido, a inovação e juventude. Felizmente, acredito que estou a trabalhar no local certo e liderado pelas pessoas certas para fazer com que isso seja possível”, afirma. Impaciente por natureza, desde muito pequeno que gostava de de atividades com resultados visíveis e rápidos.

Talvez por isso, a paixão inicial tenha sido a cirurgia. No entanto, uma visão mais larga do mundo viria a transformá-lo. “As doenças crónicas são hoje em dia o grande desafio das sociedades desenvolvidas. São responsáveis pela maior fatia da despesa em Saúde e também pelo maior número de anos de vida saudável perdidos. Investir na prevenção da doença e na promoção da saúde é o caminho a seguir. Isso passa por educar as pessoas para terem hábitos de vida mais saudáveis e para serem elas próprias a cuidar da sua saúde. Um bom exemplo disso são as diferentes políticas de promoção da alimentação saudável que o Ministério da Saúde tem vindo a implementar”.

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