A fusão entre o Deutsche Bank e o Commerzbank, os dois rivais de Frankfurt, vai ser um negócio de biliões de euros. A concretizar-se a operação, a Alemanha vai ter um banco gigante cujo valor em ativos corresponde a cerca de 15% do PIB da Zona Euro em 2018.
As contas são de Pedro Lino, trader da DIF Broker. Os dois bancos “juntos terão 1.846 biliões de euros em ativos, o que corresponde a cerca de 15% do PIB da Zona Euro” no ano passado, disse ao Jornal Económico. Em 2018, o PIB da zona euro ascendeu aos 12.6 biliões de euros.
Este valor compara com um dos maiores bancos norte-americanos. “O JP Morgan tem 2.3 biliões de euros em ativos”, ilustrou o trader.
Ainda assim, a fusão entre o Deutsche e o Commerzbank criará (apenas) o quarto maior banco europeu em ativos, apenas superado pelo britânico HSBC, e os franceses BNP Paribas e Crédit Agricole.
Too big to fail? “Sim”, respondeu Pedro Lino de forma taxativa. “Se falhar, será um risco sistémico para o sistema financeiro europeu”, explicou. “Será um banco grande demais para ser fechado e terá de ter buffers de capital” exigentes.
O trader alertou ainda para a elevada exposição do Deutsche a ativos como empréstimos e derivados, o que poderá aumentar o risco do banco criado pela fusão no pior cenário possível.
“Em 2017, o Deutsche tinha no seu balanço empréstimos concedidos no valor total de 894,7 mil milhões de euros”, revelou Pedro Lino. “Quase um bilião de euros”, frisou.
Entre estes, a maioria estava concentrada na Europa (509 mil milhões). Seguia-se a America do Norte, com 274 mil milhões, a região do Ásia-Pácifico, com 93 mil milhões, enquanto as outras geografias representavam 17 mil milhões.
Pedro Lino explicou ainda que, no mesmo ano, o Deutsche tinha ainda uma exposição a derivados de 72 mil milhões de euros. O trader realçou que o Deutsche, num espaço de dez anos reduziu “o balanço de 2.2 biliões para 1.4 biliões de euros”.
“Foi uma grande limpeza do balanço” operada através da “diminuição de non-performing loans e redução de empréstimos concedidos”, explicou.
Atualmente, na União Europeia “não existem mecanismos para o recuperar se o banco falhar”, alertou Pedro Lino. “É a grande falha da reforma da União Bancária, cujo espírito consistia em criar mais concorrência e não um banco TBTF – too big to fail”, frisou.
Além dos quase dois biliões de euros em ativos, as sinergias da fusão vão dar origem a um banco com cerca de 2.400 balcões na Alemanha, o que é “uma brutalidade”, assumiu Pedro Lino.
A força laboral poderá chegar aos 140 mil trabalhadores, dos quais cerca de 78 mil na Alemanha. No entanto, 30% do total de trabalhadores deverão ser despedidos, segundo os analistas e a imprensa internacional.
Pedro Lino salientou que não é com a criação de um campeão da banca que a Europa se torna mais competitiva internacionalmente. Em vez do setor da banca, “deviam haver fusões nas áreas das telecomunicações, da energia ou dos transportes”, defendeu. “Aí é que a Europa ganharia competitividade”, retorquiu.
Outra fonte com conhecimento do sistema bancário europeu disse que a fusão dos dois bancos de Frankfurt são um legado da crise financeira de há dez anos porque “ficaram muitos problemas por sanear”. Por isso, é de esperar uma tendência de “consolidação e de injeção de capital” no sistema bancário europeu.
A mesma fonte explicou que normalmente as fusões deste tipo realizam-se através da “injecção de capital dos acionistas ou através da abertura de capital a outros investidores”.
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