Que anos são estes? A resposta é simples: anos em que apareceram peças de disrupção e de aceleração sentidas, ainda hoje, no dia a dia das pessoas e das empresas.

Em 1981 dá-se o aparecimento do PC, i.e., computador pessoal, aquele que foi o primeiro computador orientado para pessoas e não apenas para empresas. O acordo da IBM com a Microsoft pôs em prática a visão lunática que esteve na origem da empresa de Bill Gates, em 1975: “um computador em cada mesa de trabalho em casa”.

Em 1991, Tim Berners-Lee estreou, na prática, todo o seu trabalho de investigação e que nos permite hoje ter uma base de comunicação fundamental de produção, multiplicação e partilha de conteúdos nos computadores pessoais, por meios digitais: a World Wide Web (www).

O ano de 1998 trouxe-nos a Google. Esta empresa permitiu, através do seu inovador motor de busca, tornar eficiente toda e qualquer procura de conteúdos públicos disponíveis na www. Esta plataforma revolucionou por completo o modelo de acesso a conhecimento, que não só destronou o conceito tradicional da Enciclopédia Britânica, como passou a ter direito a um verbo na nossa linguagem corrente: “Googlar”.

Já o ano de 2007 é semelhante ao “antes de Cristo e depois de Cristo” para os católicos. Há um mundo digital “antes do iPhone e depois do iPhone”. É aqui que se dá a libertação do conceito do PC de 1981. Até então, toda a tecnologia móvel (smartphones) dependia integralmente do computador pessoal, não tendo verdadeiramente “vida própria”. O que Steve Jobs nos deu foi uma libertação, ao dizer simplesmente que os smartphones passariam a ser “a extensão da nossa mão”. A disrupção não foi tanto tecnológica, mas de experiência do utilizador.

Esta simples forma de usabilidade potenciou globalmente a utilização da mobilidade e de produção de dados de forma massiva. As mudanças dos modelos de negócio tornaram-se transversais e transformacionais em todos os setores. O aparecimento de muitas novas empresas, o exponenciar da globalização e do acesso a serviços fez desaparecer gigantes empresariais que ou não souberam entender os novos tempos, ou acharam que eram eternos.

No final de 2022, avizinhava-se mais um marco de aceleração digital e na forma como estamos habituados a viver e ver o mundo digital. O aparecimento da plataforma ChatGPT mostra que a Inteligência Artificial, mesmo estando longe do seu estádio de maturidade, pode integrar o dia a dia do humano de forma acessível e subtil.

Uma vez mais, estamos perante uma usabilidade distinta da realização de tarefas, num caminho que se aproxima de uma maior eficiência. Ao contrário do “Googlar”, onde procuramos conteúdos para depois realizar tarefas, o que o ChatGPT nos traz é não só procurar temas, como efetivamente fazer tarefas para e por nós! Esta pequena grande mudança tem e terá um impacto significativo na forma como passaremos a usar a tecnologia.

Na realidade, a mudança que vamos iniciar implica deixarmos de usar a tecnologia para passarmos a ser usados pela tecnologia. Desta forma, tenderemos definitivamente a desenvolver menos esforço de cálculo, raciocínio e armazenamento mental, pois deixamos de ter necessidade de treinar a nossa massa cinzenta, uma vez que tudo nos passará a “ser dado”.

Será isto bom…? Recomendo o visionamento do filme da Disney “Wall-E”, pois poderemos estar nesse caminho de transformação e evolução da humanidade, tal como refletido na Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin.