A economia portuguesa surpreendeu no primeiro trimestre e é agora, na previsão da Comissão Europeia (CE), a economia em que se prevê que o crescimento económico em 2022 seja o maior de toda a União Europeia, atingindo os 6,5%, depois de uma revisão em alta dos 5,8% que havia feito antes.

Nisto a CE foi acompanhada pelo Banco de Portugal que no seu Boletim Económico de junho também havia revisto a previsão de crescimento para a economia portuguesa em 2022 de 4,9 para 6,3%. Também no que diz respeito à inflação os números foram revistos em alta, com uma previsão de subida do nível geral de preços para 2022 de 6,8%, acima dos 4,4% que haviam sido anunciados antes.

Como em tudo, haverá fatores que explicam o cenário positivo que estes números sugerem. O primeiro trimestre de 2021 foi de má memória para Portugal, com a terceira vaga da pandemia a ter o maior impacto até então, quebrando recordes de novas infeções, internamentos nos cuidados intensivos e até mortalidade associada à Covid-19. Isto motivou um conjunto de medidas de controlo sanitário que estrangularam sobremaneira a economia, que sofreu a sua segunda maior contração num trimestre observada em pandemia, 5,5% em termos homólogos.

Neste contexto, existe um importante efeito de base que ajuda a explicar a performance da economia portuguesa no primeiro trimestre de 2022, aquele em que as medidas de controlo sanitário mais abrandaram e em que a procura interna disparou, sustentando o crescimento observado de 11,9%. Os números do segundo trimestre não evidenciarão um crescimento tão pronunciado em termos homólogos como no primeiro, mas serão números, ainda assim, substanciais.

Mas é importante dizer que há mais razões do que o efeito base e o fim da maioria das medidas de controlo sanitário para estar otimista relativamente ao comportamento esperado da economia portuguesa num futuro próximo.

O Turismo de Portugal tem vindo a publicar um conjunto de estatísticas que sugerem que, também por aí, podemos esperar uma dinâmica forte que sustente as expectativas de crescimento económico, com os números a mostrar os valores mais elevados desde o início da pandemia. Junte-se a isto uma menor exposição às consequências do conflito na Ucrânia e temos um conjunto de ingredientes (inflação ligeiramente mais moderada, efeito base importante, crescimento acentuado da procura interna e do turismo estrangeiro e até taxas de desemprego abaixo da média da União) que sugerem que 2022 poderá ser um ano de muito boa memória para a economia portuguesa.

Este artigo é publicado no âmbito da rubrica “Barómetro”, do Boletim Económico de Verão do JE, parte integrante da edição impressa de dia 22 de julho.