Depois de vários dias intensos de reuniões, eventos e discussões, que balanço fazer de mais uma Conferência das Partes (COP26) sobre o futuro climático do nosso planeta? O que alcançaram os atuais líderes mundiais de tão diferente da primeira cimeira em 1995?

Quer para o presidente da conferência, Alok Sharma, quer para o primeiro-ministro britânico, Boris Jonhson, a COP26 foi um “feito histórico”. Mas será? Talvez não. Não, quando os próprios falam também em “desapontamento” ou “frustração profunda” quanto às posições da Índia e da China sobre o carvão (mas já lá iremos).

Por outro lado, se para o ministro do Ambiente português, “as expectativas foram razoavelmente cumpridas”, para o secretário-geral da ONU, António Guterres, a franja de otimismo parece mais esbatida, falando mesmo em “insuficiente vontade política coletiva”. Mais expressiva foi a reação da jovem ativista Greta Thunberg que destacou o facto de a COP26 ter conseguido aligeirar o blá-blá-blá (“COP26 even watered down the blah, blah, blah”).

Em junho de 2022 terão passado 50 anos da Conferência de Estocolmo – a primeira grande reunião de chefes de Estado organizada pela ONU para tratar das questões relacionadas com a degradação ambiental – e 30 anos desde a Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento (ECO 92 ou Cimeira da Terra), realizada no Rio de Janeiro.

Foi deste último evento que saiu a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas – ratificada atualmente por 196 países e uma organização económica – que entrou em vigor em 1994 passando a ser reconhecido internacionalmente que o sistema climático é um recurso de todos e que a sua estabilidade é afetada por atividades antropogénicas.

A partir de 1995, todos os anos os líderes das diversas Partes passaram a reunir-se para cumprir o objetivo final da Convenção: estabilizar as concentrações de GEE “a um nível que evite uma interferência antropogénica perigosa no sistema climático”. Um nível que “deve ser alcançado num prazo suficiente para permitir que os ecossistemas se adaptem naturalmente às alterações climáticas, para assegurar que a produção alimentar não seja ameaçada e para permitir que o desenvolvimento económico prossiga de uma forma sustentável”.

Acontece que, para além de alguns tímidos avanços práticos, estamos a caminhar rapidamente para um aumento de 2,7º C da temperatura média global até 2100. Valor bem acima do fixado no Acordo de Paris, em 2015, que fixou a meta “bem abaixo” dos 2° C e [o] “envidar [de] esforços para o limitar a 1,5° C”. Para além deste limite, o nível médio do mar subirá, vão aumentar as cheias, secas, incêndios florestais e tempestades, com impactos catastróficos e irreversíveis. Juntando as ‘novas’ promessas de neutralidade carbónica que saíram de Glasgow, é isso que, muito provavelmente, nos espera.

Lamentavelmente, se alguma coisa não mudou nestas décadas foi o “blá-blá-blá”.