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41 anos depois, os Metallica ainda dão concertos como se fossem jovens

O regresso da mítica banda aos palcos portugueses esgotou a terceira noite do NOS Alive e marcou o fim da digressão europeia. Num concerto que arrancou com uma chicotada, houve chamas (claro) rasgados elogios ao exigente público português e os êxitos do costume.
9 Julho 2022, 15h08

Os Metallica foram o ponto alto da terceira e penúltima noite do NOS Alive e isso notava-se, desde logo, antes de se chegar ao recinto. Quem percorria o paredão até ao Passeio Marítimo de Algés, começava a ver, ainda a quilómetros, coletes de ganga, t-shirts pretas e merchandising da banda, de digressões longíquas. Ninguém foi ao engano. Na plateia, um sintoma óbvio de que uma das mais míticas bandas de heavy metal já não caminha para nova, mas que também não se cansa destas andanças.

Alguns com as roupas rockeiras repescadas do armário, outros assumidamente despidos da cintura para cima (talvez pelo calor), os fãs da banda de Los Angeles queriam um cobiçado lugar na plateia, num recinto completamente esgotado e apinhado. Os fãs mais antigos fizeram-se acompanhar dos filhos, numa doutrina musical que surpassa gerações, e a escassos metros da frontline, minutos antes do arranque, encontramos até mulheres grávidas. “É uma menina”, diz o pai. “São as minhas duas meninas”, enquanto segura a barriga da mulher, já a antever o mosh pit.

É esta a febre que acompanha os Metallica e que se torna, lenta mas certeiramente, contagiosa. Afinal, o cartaz desta sexta-feira não defraudava ninguém, salvo alguns erros de casting nos palcos secundários. Mas já lá vamos, que no palco NOS já se apagaram as luzes e ouvem-se as primeiras notas de ‘Whiplash”.

Ecoaram clássicos pesados, recuperados das últimas quatro décadas, mas houve até espaço e tempo neste concerto extenso – duas horas – para trazer a palco temas menos conhecidos, que esboçaram sorrisos nos fãs mais hardcore. ‘Creeping Death’ e ‘Enter Sandman’, daquele vinil escuro que já todos ouvimos, não faltaram.

Depois de uma digressão europeia que não foi isenta de falhas e pregos, os Metallica rapidamente explicaram ao que vinham. “É um concerto agridoce”, confessam. “É o fim da nossa digressão europeia”. Os ensaios até aqui parecem ter corrido bem, mas aos ouvidos mais clínicos não escaparam alguns soluços, uns acordes ao lado, e transpirou até algum cansaço. Quando se faz heavy metal há quarenta anos, é bom que se tomem umas vitaminas para a astenia.

Em concertos anteriores, a banda tremeu até no tema ‘Nothing Else Matters’ – talvez o mais conhecido – quando Kirk Hammett se enganou a tocar a entrada. Estão perdoados, que ao Passeio Marítimo de Algés chegaram certinhos.

O quarteto de Ulrich, Hetfield, Hammett e Trujillo não deu descanso ao público português, que enlatado e ofegante lá se aguentou até ao fim, num aplauso prolongado e sentido a uma das bandas mais reconhecidas em todo o mundo. Foi um concerto puxado a ferros, mas que terminou em chamas, com lasers a rasgar o céu de Algés e numa apoteose que fazia tremer até as gargantas da plateia. Viam-se tampões para os ouvidos, cascos canceladores de ruído nas crianças e garrafas de água, muitas garrafas de água.

Se já passaram quatro décadas, não se nota, de tão atuais que estão as referências, numa tentativa sexagenária de se manterem atuais. Os mais atentos (e com uma conta de Netflix) reconheceram a t-shirt que dizia ‘Hellfire Club’, um aceno à série Stranger Things, onde o filho de Trujillo acabou a tocar ‘Master of Puppets’, aquele êxito incomparável. A máquina está viva, oleada e prometeu voltar.

Enquanto tremia o relvado artificial, que ao terceiro dia já acusa algum desgaste, muitos começaram a circular em direção aos palcos secundários. No palco Heineken, o regresso de M.I.A contou com uma plateia modesta mas investida. Não sabemos se uma tenda, ou estufa, foi a melhor aposta para fazer frente aos termómetros, mas adiante. A cantora britânica, natural do Sri Lanka, rompeu o pequeno palco em verde fluorescente, onde entre jams e temas recentes se ouviram clássicos (está na hora de renovar o repertório).

Pecou apenas pelos precalços técnicos, que foram frequentes, e pela atuação ingrata frente a um cartaz que se resumia ao palco principal.

Este sábado, último dia do festival, está também esgotado. Antecipa-se o anunciado regresso dos Da Weasel, com o documentário da banda a passar nos ecrãs do festival a partir das 20h00. Mas atuam também no palco principal Imagine Dragons e Two Door Cinema Club. Para acabar em grande, que ao fim de uns anos quere-se é êxtase.

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