Apesar da insistência americana, Portugal e Espanha não vão proibir, de momento, a utilização de equipamento chinês nos sistemas centrais das redes de comunicações móveis de nova geração, o 5G.

Em simultâneo, a agência europeia de cibersegurança, ENISA, publicou há dias um extensíssimo relatório que pretende alertar os operadores sobre os riscos inerentes a esta tecnologia como consequência de tratar-se da primeira geração de redes totalmente baseadas em software, dependentes de múltiplas aplicações distribuídas em servidores dispersos.

Como qualquer grande inovação, o 5G traz em simultâneo o yin e o yang, universos de oportunidades e ameaças que são, neste caso, de um tamanho descomunal. O 5G vai reestruturar profundamente o setor das comunicações, definindo novos protagonistas, ganhadores e perdedores. E, junto com o Tratamento Massivo de Dados e a Inteligência Artificial, vai encadear enormíssimas capacidades de obtenção, processamento e manipulação de dados para transformar radicalmente a forma em que a sociedade está organizada.

O 5G tem sido desenhado para ser o sistema com maior capacidade de comunicação entre pessoas e máquinas da história, permitindo utilizações inéditas com experiências imersivas em tempo real e promovendo novos ecossistemas de inovação em todos os domínios da atividade humana.

Já existem no mundo perto de 40 redes em comercialização, sendo a mais próxima de nós a da Vodafone em Espanha, todas elas ainda focadas na primeira e menos importante aplicação desta nova tecnologia, denominada Banda Larga Móvel Melhorada. As aplicações de Conetividade Massiva de Sensores e de Comunicações Instantâneas Ultra-fiáveis, que constituem as outras duas principais linhas de serviços do 5G, virão a seguir.

Em simultâneo, o 5G traz novos problemas à sociedade, como o enorme consumo de energia requerido pelo processamento em tempo real de ingentes quantidades de aplicações hospedadas em servidores distribuídos. Em termos estruturais, o 5G é, neste sentido, muito semelhante ao blockchain e a outros protocolos que suportam as criptomoedas.

Um outro desafio será acomodar a grande quantidade de antenas que esta tecnologia requer nas áreas urbanas, com grande densidade de pessoas e coisas a trocar informação, que provocará uma poluição paisagística e de radiações ainda não suficientemente ponderada.

Mas a componente verdadeiramente “feia” do 5G está associada aos riscos inerentes à sua estrutura totalmente baseada em software, que permite a existência de “portas traseiras” praticamente indetetáveis e que, teoricamente, poderão dar acesso em tempo real a qualquer dado sobre os utilizadores e as suas atividades. Não há forma de contornar esta situação porque é inerente ao desenho da tecnologia.

A China entendeu antes que ninguém o impacto estratégico desta tecnologia. Cabe agora aos nossos reguladores e políticos implementar medidas para potenciar os aspectos bons do 5G, mitigar os maus e embelezar os mais feios, à medida da estética europeia.