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Rússia e Bielorrússia iniciam 10 dias de exercícios militares a norte da Ucrânia

São 10 dias de demonstração do poder dos dois exércitos a norte da Ucrânia, numa altura em que a tensão entre os dois lados do problema não diminuiu em nada. Entretanto, o Papa Francisco foi convidado pelos católicos romanos ucranianos a visitar o país.
9 Fevereiro 2022, 17h50

A Rússia transferiu até 30 mil soldados, dois batalhões de sistemas de mísseis terra-ar S-400 e vários caças para a Bielorrússia para exercícios de treino conjunto com o exército bielorrusso, como estava previsto há semanas – num espaço geográfico Imagens próximos da fronteira com a Ucrânia.

Os exercícios não são uma novidade para o ocidente e terão mesmo feito parte das conversas tidas esta semana entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o seu homólogo francês Emmanuel Macron. O presidente francês deixou saber que está convencido que o exército russo regressará a casa quando os exercícios terminassem, em 20 de fevereiro, mas o lado ocidental quer ver para crer. Até lá, serão 10 dias de grande tensão geopolítica – nomeadamente porque há poucas semanas os Estados Unidos estacionaram soldados na Polónia, país que faz fronteira tanto com a Ucrânia como com a Bielorrússia.

As dúvidas do ocidente são sustentadas por vários analistas. “Lukashenko, presidente bielorrusso, não será capaz de resistir a dar território para quaisquer fins que a Rússia precise, seja usando instalações militares bielorrussas, bases aéreas, talvez até mesmo o sistema de defesa aérea”, disse Artyom Shraibman, analista político bielorrusso, citado pelo jornal britânico ‘The Guardian’.

Mas é preciso recordar que, quando a Rússia invadiu a Ucrânia pela primeira vez em 2014, Lukashenko permaneceu cuidadosamente neutro e manteve relações calorosas com o então presidente ucraniano, Petro Poroshenko – entretanto deposto por um golpe de Estado. Mas tudo isso foi numa altura em que as relações entre a Bielorrússia e a União Europeia não tinham azedado, como acabou por suceder na sequência das eleições presidenciais de agosto de 2020, ganhas por Lukashenko por mais de 80% dos votos e nunca reconhecidas pelo bloco ocidental.

De qualquer modo, em 2019, Lukashenko assegurou ao atual presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, que a Bielorrússia nunca se prestaria a permitir que a Rússia usasse o seu território para invadir a Ucrânia.

 

Dias negros para Macron

Entretanto, o périplo de Emmanuel Macron pela diplomacia de leste não lhe terá corrido da forma que esperava. Não só foi desmentido pelo Kremlin quando os seus serviços colocaram a circular a informação segundo a qual Putin não iria aumentar o contingente militar junto da fronteira com a Ucrânia, como se agora alvo de críticas internas na União Europeia.

O Alto Representante da União Europeia para a Política Externa, o espanhol Josep Borrell, afirmou, citado pela comunicação social, que “a visita do presidente Macron a Moscovo foi importante, mas não produziu um milagre. A prova de que a situação ainda é tensa é que a Rússia decidiu enviar navios de guerra ao Mar Negro para exercícios militares”. Borrell, que não faz parte das fotografias que podem emoldurar estes dias de intensa atividade diplomática na linha entre o ocidente e a Rússia, está em Washington onde, juntamente com o Comissário Europeu para a Energia, Kadri Simson, para participar do nono Conselho de Energia Estados Unidos-União Europeia.

“É reconfortante saber que a presidência do Conselho assume um papel importante numa situação como esta. Lembrem-se de 2008, quando a Rússia atacou a Geórgia e foi [o então presidente francês Nicolas] Sarkozy que desempenhou um papel semelhante, aproximando-se imediatamente da Rússia e começando a conversar”, acrescentou Borrell – algo que o comentador Francisco Seixas da Costa já recordou em declarações ao JE.

Mas os analistas vêm ali mais uma crítica que propriamente um apoio. De facto Borrell tem estado desaparecido das negociações, depois de ter sido ‘despachado’ de Moscovo – com o presidente Vladimir Putin a explicar que qualquer negociação séria sobre a atual crise geopolítica teria de ser mantida com os Estados Unidos e não com a União Europeia.

 

Papa apoia diálogo

Por outro lado, o Papa Francisco disse esta quarta-feira que a guerra na Ucrânia seria “uma loucura” e expressou esperança de que as tensões entre aquele país e a Rússia possam ser superadas por meio de um diálogo multilateral.

“Continuemos a implorar ao Deus da paz para que as tensões e ameaças de guerra possam ser superadas por meio de um diálogo sério e que as conversações do Formato da Normandia possam contribuir para esse objetivo”, disse ele, referindo-se às negociações envolvendo Rússia, Ucrânia, Alemanha e França.

A maioria dos ucranianos segue o cristianismo ortodoxo – tal como acontece com os russos – mas o país também abriga o seu próprio ramo da Igreja Católica. Na terça-feira, o líder dos católicos romanos, o arcebispo Sviatoslav Shevchuk, disse que convidou o Papa para uma visita à Ucrânia.

Já o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, que visitou a Ucrânia mas não a Rússia e segue num caminho diplomático paralelo ao da União Europeia, escreveu no jornal “Times” que o Reino Unido está a considerar o envio de caças da RAF e navios de guerra da Marinha Real para a região do Báltico, mas disse esperar que a diplomacia possa solucionar a crise”. O primeiro-ministro disse que a prioridade imediata é “permanecer com os nossos aliados e combinar a dissuasão com o diálogo para diminuir esta crise e evitar a catástrofe de outra invasão russa da Ucrânia”.

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