É já amanhã, 20 de outubro, que o Teatro Aberto, em Lisboa, acolhe uma Mesa Redonda para apresentar a 4ª edição do Festival CriaSons e o percurso e obra de Constança Capdeville. Porquê? Porque este ano o CriaSons consagra o género Teatro-Música, edição, cunhado e amplamente trabalhado pela compositora, pianista e pedagoga Constança Capdeville, falecida em 1992.
A artista foi um nome de relevo no panorama musical português, nomeadamente a partir do terceiro quartel do século XX. A sua multiplicidade de interesses plasmou-se na diversidade de criação, que a levou a compor obras para orquestra, música de câmara, instrumentos a solo, dança, teatro e cinema, a somar aos muitos espetáculos cénico-musicais que assinou.
Ao longo do seu percurso profissional, Constança Capdeville explorou a ligação da pesquisa sonora a elementos teatrais e gestuais, e manteve sempre um estreito diálogo entre a música e as outras artes. E para poder enquadrar as suas pesquisas, criou um laboratório vivo, em 1985, a que chamou ColecViva.
A Mesa Redonda que vai realizar-se pelas 17h00, junta alguns nomes de referência da música contemporânea portugesa, como António Sousa Dias, Filipa Magalhães, Luís Pacheco Cunha, João Paulo Santos e Pedro Wallenstein. Ocasião para dar algumas pistas sobre o espetáculo de abertura do CriaSons IV, FE…DE…RI…CO…, com estreia marcada para 4 e 5 de novembro, no Teatro Aberto em Lisboa, às 21h30. Trata-se de uma recriação moderna do original de 1987 de Capdeville, uma produção que, à época, pretendia romper com as formas canónicas da ópera, cabaret e teatro musical, entre outros, para repensar o palco e a criação.
Nesta edição, o festival conta com a participação de seis compositores residentes, sendo um deles a própria Constança, “reconhecendo nesta forma de homenagem a sua «imortalidade» – ou intemporalidade”. O painel vai ainda integrar os “históricos” António de Sousa Dias e Paulo Brandão e os mais jovens nestas lides João Pedro Oliveira e Joana Sá. Lisboa vai receber seis programas, todos eles com um carácter itinerante. Ou seja, estarão posteriormente em digressão pelo país e estrangeiro.
Ainda no âmbito do festival, será selecionado um compositor para integrar o painel dos residentes. O desafio? Compor uma obra no contexto do teatro-música, ligando passado, presente e futuro. O júri incumbido desta seleção será constituído por todos os compositores residentes e ainda por Carlos Alberto Augusto (consultor técnico e artístico) e Filipa Magalhães (musicóloga, consultora académica).
No que respeita à programação, o CriaSons IV vai apresentar obras ou excertos de obras da compositora Constança Capdeville, assim como de outros compositores portugueses como Jorge Peixinho, Lopes e Silva, Miguel Azguime e Clotilde Rosa, entre outros, e de compositores estrangeiros como John Cage, Luciano Berio, Bruno Maderna, Mauricio Kagel, Louis Andriessen e outros.
As obras serão interpretadas pelo Ensemble Musicamerata, de formação variável, e com a integração de novos elementos como atores, bailarinos e mimos, para dar corpo a cada uma das obras.
Esta pretende ser uma grande festa para celebrar o Teatro-Música, visto muitas das obras que integram este repertório terem caído no esquecimento a partir da década de 90 do século XX. “Possivelmente por terem sido pensadas como atos únicos e não para serem repetidas”, refere a organização no site oficial do evento, realçando, a propósito que o interesse do Festival CriaSons nestas obras é, precisamente, dar-lhes “uma maior visibilidade e uma nova vida através da sua recriação em palco”.