O sururu é real e tem fundamento, mas, se colocarmos de parte as “modas e manias” do presidente americano, o que é que nos resta? Não sei. Digamos que todos nós, e eu não sou excepção, ficámos algo atordoados ao tentar acompanhar tanta informação, eventos formais, jantares, almoços, declarações conjuntas, etc., e isto antes das férias de Verão (para quem as tem) já pesa um bocado. Sim, estou a falar do périplo europeu de Donald Trump.

Como se não bastassem as suas declarações dúbias, com um certo sabor a ameaça acerca do que pode ou não fazer sobre a permanência dos Estados Unidos na NATO, tivemos a visita ao Reino Unido com um “dar as mãos” (no sentido literal) a Theresa May, as manifestações em Londres contra um presidente que tem muitas características menos ser feminista, e a entrevista ao “Sun”, com declarações, mais uma vez, pouco felizes de Donald. Tudo isto está a agitar um já agitado Reino Unido, se bem que com a soberana a manter a normal normalidade.

Desculpem-me o palavreado, mas continuo a pensar que este “erro de casting” se não fosse dramático, além de absurdo seria apenas risível, como aliás já o é. E sim, estou a falar de Donald Trump. E sim, ele é também o pretexto para reflectir sobre como podemos esquecer os holofotes e focar-nos naquilo que nos deve interessar a todos, além das partes anedóticas das situações referidas.

O que é que tudo isto quer dizer para as relações futuras entre a Europa e os EUA? Poderemos nós, europeus, continuar a esperar uma relação de confiança como aquela que existiu no passado entre as democracias liberais do Velho Continente e os Estados Unidos?

Vivemos tempos de incerteza, é certo, e a hostilidade, ainda que mascarada de falta de educação, não deixa de ser hostilidade. Aliás, a reacção da população nas ruas de Londres mostra que nada disto é pouco relevante, pelo contrário. Pode até parecer que estes assuntos são apenas política interna e desagrado contra um certo indivíduo por parte da população londrina, mas há mais do que “apenas isso”. Há um quadro maior e uma paisagem mais abrangente que devem ser tidos em conta. Esse quadro considera, claro, a Rússia de Putin, mas não só.

No jogo de espelhos que é a política internacional, uma União Europeia (UE) forte não é algo benéfico para todos, mas uma UE dividida (mais dividida) agrada a alguns e parece agradar a Trump e aos seus apoiantes. Pelo menos é o que me ocorre deduzir, a não ser que consideremos como certa a tontice extrema das acções daquele que é um dos líderes mundiais mais importantes da actualidade. Mas acreditar na sandice de Trump é desresponsabilizá-lo, e isso eu não faço.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.