A Alemanha entrou em recessão técnica, isto é, apresentou crescimento negativo pelo segundo semestre consecutivo, em divergência com outras economias avançadas. O FMI antecipou assim um crescimento nulo para a Alemanha em 2023, em linha com as previsões avançadas pelo Governo alemão em janeiro (0,2%).

Não se pode dizer que os dados para a economia alemã tenham causado surpresa – são o corolário, quer do aumento substancial do preço da energia, quer do corte na despesa que foi imposto pelos alemães para lidar com a inflação.

Mas há alguns registos atípicos nesta recessão que são dignos de nota. Primeiro, as exportações alemãs subiram 0,4% neste período, tendo o comércio de plásticos e de produtos metálicos transformados liderado o crescimento. Segundo, o investimento manteve-se positivo – a formação bruta de capital fixo aumentou 3,9% na construção, onde o bom tempo terá ajudado e 3,2% na maquinaria e equipamento. Por último, a recessão foi acompanhada por um aumento do emprego, que subiu 1% face ao ano anterior, causando assim um declínio da produtividade.

Apesar do bom desempenho do investimento e, após uma visita de missão, o FMI sugeriu a necessidade de serem promovidas reformas estruturais que passarão por criar espaço orçamental para permitir aumentar o investimento público e as despesas decorrentes do envelhecimento populacional, sem esquecer a transição ecológica. A sua preocupação, no entanto, é como fazê-lo, dada a regra constitucional que impõe um travão à dívida, limitando os novos empréstimos estruturais anuais a 0,35% do PIB a nível federal. De acordo com o FMI, a Alemanha não tem margem de manobra orçamental para reagir aos choques, nem para promover mudanças a médio prazo.

O problema no mercado de trabalho alemão também é crítico e caracteriza-se por escassez de trabalhadores, fruto do envelhecimento populacional, pondo em risco a produtividade e a transição energética, como referiu o ministro da Economia quando propôs solucionar o problema com recurso a imigração. A revista “The Economist” reiterou a ideia de que a Alemanha precisa de imigrantes para responder ao crescimento das ofertas de emprego – 66% entre 2021 e 2022, cifrando-se já em 1,93 milhões de postos de trabalho. E adiantou que aumentar a idade de reforma ou atrair mais mulheres para o mercado de trabalho não será suficiente para colmatar estas necessidades.

E as carências são sobretudo de trabalhadores qualificados – em 2022, dos 1,3 milhões de postos de trabalho para profissionais especializados ou qualificados, quase 50 por cento não tinham trabalhadores para os preencher –, verificando-se em muitas áreas, da saúde à educação, passando pela arquitetura, engenharia e tecnologias. Estas falhas levaram mesmo a Alemanha a encetar esforços para simplificar os seus processos de vistos e facilitar a imigração de trabalhadores qualificados. Também a este nível, o FMI recomendou reformas de médio prazo, que permitam aumentar a oferta de mão de obra e a produtividade.

A retoma do crescimento alemão deverá acontecer já em 2024, mas os problemas estruturais da economia persistirão se não houver coragem para introduzir mudanças profundas, desde já em termos orçamentais, que permitam acelerar o investimento público.

Ou, como parece sugerir o FMI, a Alemanha precisa urgentemente do seu Inflation Reduction Act.