A recente onda de inflação despertou a atenção para o fenómeno da desvalorização do dinheiro ao longo dos anos. Muitos investidores procuram agora alternativas aos depósitos a prazo, que pouco rendem quando comparados com os certificados de aforro ou fundos de obrigações.

Infelizmente, despertos para a necessidade de investir as suas poupanças, muitos aforradores estão agora a cair em armadilhas nas redes sociais, que publicitam frequentemente o que são esquemas e burlas, caindo no engodo da promessa de rentabilidades rápidas. Afinal, quem não gostaria de ganhar dinheiro fácil e ‘para ontem’?

Só que a realidade não é essa, uma vez que todas as decisões que tomamos na vida, e, em especial as financeiras, têm um grau de incerteza. Continuam a chamar atenção as recentes burlas em torno dos CTT, onde sites estrangeiros prometem potenciais de rentabilidade aproveitando a ligação dos CTT aos certificados de aforro, que são muito procurados.

O facto de ainda haver quem caia neste tipo de burla é problemático, pois demonstra a ausência de literacia financeira e, até certo ponto, o desespero.

Algumas instituições financeiras e empresas de investimento, sediadas em países com supervisão duvidosa, continuam a beneficiar da impunidade da justiça, roubando literalmente os investidores e contribuindo para o medo e má fama do investimento nos mercados financeiros.

A mais recente incerteza em torno dos bancos regionais norte-americanos também não ajuda à recuperação da confiança, com o First Republic Bank cada vez mais perto de uma intervenção. Certo é que o problema terá de ser resolvido pela Reserva Federal dos EUA, sendo cada vez mais provável uma subida dos juros.

Mas devemo-nos focar nos factos. Em 2023, as taxas de rentabilidade dos investimentos nos mercados financeiros são muito superiores ao dos certificados de aforro ou depósitos a prazo, e, por alguma razão, os investidores continuam desatentos. Apesar da incerteza em torno da economia e dos juros, o mercado de acções, ou, pelo menos, a evolução das grandes empresas, vai evidenciando que o investimento a longo prazo compensa.

Chegamos, assim, à maior diferença face a outras crises – o nível de concentração. Ao longo do tempo, o resultado das diversas crises tem sido uma maior desigualdade nos rendimentos da população. Esta realidade chegou agora ao mercado, com as grandes empresas a ganharem um peso nunca antes visto. As dez maiores empresas do índice S&P500 pesam agora 28%, que compara com 20% nos últimos 40 anos. Mas destas, apenas seis justificam metade dos ganhos do índice.

Ou seja, a rentabilidade dos índices começa a ficar cada vez mais descorrelacionada dos rendimentos dos investidores, e talvez seja uma justificação para o desinteresse pelos mercados financeiros – muitos investidores perdem dinheiro enquanto os índices sobem.

Ora, esta armadilha da concentração pode desfocar os investidores das boas práticas de investimento, da diversificação e do longo prazo, abrindo espaço para o sucesso das burlas.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.