1. O processo movido a Joe Berardo e ao seu advogado e que entretanto envolveu também o ex-presidente da CGD e do BCP, Carlos Santos Ferreira, terá começado há cinco anos, mas teve um momento épico numa comissão parlamentar de inquérito em que o empresário madeirense deu indicações de como se furtou à responsabilidade pelas dívidas, e sem imodéstias declinou qualquer responsabilidade e dívidas pessoais perante a CGD. Estão em causa mil milhões de euros que acabarão por ser assumidos pelo contribuinte perante eventuais necessidades de capitais suplementares do banco público.

Foi a arrogância da altura no parlamento que acicatou toda a situação e o público quer ver sangue dos fortes. Contrastando com outros processos mediáticos, onde se vai sabendo um bocadinho de tudo pelas fugas, este processo não teve fugas relevantes ao longo destes cinco anos.

Entretanto, entrámos no espetáculo mediático com o juiz Carlos Alexandre como protagonista. Esperemos que prepare os quesitos de forma irrepreensível. Neste processo há muito mais do que espetáculo mediático e caricatural. Há processos relevantes, sobretudo a envolver Santos Ferreira e a eventual gestão danosa no BCP com a reestruturação das dívidas de Berardo e de Manuel Fino.

Aliás, há quem recorde que o BCP é um caso ímpar no mundo ao trocar um valor certo por um incerto numa operação de Manuel Fino em que a Caixa aceitou reestruturar a dívida contra a entrega de ações da Cimpor valorizadas 50% acima do valor do mercado, com o argumento de que esse era o valor futuro! Santos Ferreira estará defendido com a análise de risco e a anuência de toda a administração da altura. Mas, a verdade é que a CGD tinha um percurso de facilitações.

Espera-se por outros arguidos que participaram nestas operações que, eventualmente, chegarão a gestão danosa e burlas. A ligação ao ex-primeiro-ministro Sócrates poderá ser outro objetivo do super juiz.

Entretanto, Berardo continua ser o cerne do espetáculo. Alguns dirão que trilhou o caminho e cavou a sepultura com esquemas elaborados por um advogado de grande inteligência e que foi alvo de buscas (é preciso recordar que nos computadores estarão processos de outros clientes e que nada têm a ver com este assunto). Claro que a detenção de Berardo é questionável pois se quisesse fugir já o teria feito há muito. Todos “malham no ceguinho” e a justiça parece seguir o mote dado pelos políticos.

De tudo isto, o que me insurge não é o processo em si e que a justiça irá demonstrar eventuais culpas, mas a tentativa de fazer uma espécie de demonstração de justiça com envergonhamento público. Isso é sensacionalismo e a justiça convive mal com esses modelos.

2. A presidência portuguesa do Conselho da UE 2021 chegou ao fim e foi uma presidência pífia. O único mérito foi fazer com que os fundos estruturais passassem por Portugal, sendo que a quantidade devida ao país é pequena. Não se vislumbrou nenhum brilho, sobretudo quando se fala em vacinas e se conclui que a União Europeia andou a leste de tudo.

Valha-nos a esperança de que, desta vez, a economia não será fechada, vamos ficar pelas contingências e esperar que a quarta vaga – com a variante D – passe rapidamente. O processo de vacinação está a correr bem, com alguma organização militar a ajudar.