O acontecimento passou quase despercebido, mas desde o passado dia 30 de novembro de 2018 é possível efetuar transferências instantâneas entre contas de diferentes instituições de crédito utilizando os diferentes canais (digitais e físicos) dos bancos portugueses. Naturalmente que esta possibilidade já estava disponível no MBWay (que conta já com mais de um milhão de clientes), mas a novidade é que passou a estar disponível também nos canais próprios dos bancos.

Consideram-se pagamentos instantâneos soluções de pagamento disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana e 365 dias por ano, que permitem a disponibilização dos fundos na conta do beneficiário e a confirmação do sucesso da operação ao ordenante, em tempo real ou quase real (até um máximo de cerca de dez segundos).

Trata-se da plena implementação do TARGET – Instant Payment Settlement (TIPS), solução que garante a completa interoperabilidade entre todos os prestadores de serviços de pagamentos com um serviço de liquidação em moeda de banco central para pagamentos imediatos.

Mas, para além do óbvio benefício que é a possibilidade de alguém receber um crédito na sua conta (até 15 mil euros) quase imediatamente após a ordem de transferência, o principal impacto desta alteração é na sua conjugação com a PSD2, diretiva que vem responder à crescente digitalização dos serviços financeiros, que se traduziu no surgimento de novos prestadores de serviços de pagamento, novas soluções de pagamento, utilizadores mais informados (e exigentes) e novos desafios para a segurança das transações e que vem regular dois serviços de pagamento que não tinham, ainda, regulação adequada – os serviços de informação sobre contas e os serviços de iniciação de pagamentos.

No caso dos serviços de iniciação de pagamentos, estes prestadores poderão iniciar pagamentos em nome do utilizador sem que este tenha de sair do site ou marketplace no qual está a realizar as suas compras de produtos ou serviços. Se pensarmos que na Europa existem 17 serviços de pagamentos instantâneos nacionais, dos quais oito estão em países fora da zona euro, percebe-se a importância desta mudança.

Com a crescente utilização dos canais digitais por parte dos clientes e a consequente necessidade da digitalização do negócio por parte dos bancos, a rapidez da adaptação destes é essencial para capitalizar a oportunidade de transformação de banca em serviços bancários. Esta é mais uma mudança num setor em transformação. Os bancos tradicionais não vão desaparecer. Os balcões físicos vão reduzir-se em número e dispersão geográfica e transformar-se, mas vão continuar a existir.

Para que os bancos tradicionais possam adaptar-se e vingar neste novo contexto competitivo, a ligação dos canais físicos e digitais, através de uma experiência de utilização transparente e sem barreiras e a eficiência das “customer journeys” serão os fatores diferenciadores e fundamentais nos processos de digitalização, e uma das chaves na retenção e na captura de novos clientes.

Das organizações monolíticas do passado, os bancos estão a transformar-se em organizações ágeis, nas quais a gestão integrada do negócio, dos sistemas de informação e das operações será a chave do sucesso num contexto de enorme transformação ao nível da inovação e da oferta de serviços financeiros.