A transição energética está a materializar-se e a eletrificação é um dos principais caminhos seguidos. Um dos grandes desafios da eletrificação continua a ser o armazenamento da energia renovável para ser usada quando precisamos e não apenas quando temos sol ou vento. Existem várias tecnologias capazes de providenciar esse armazenamento, mas as baterias de ião-lítio, pela sua maturidade tecnológica e a elevada disponibilidade de um dos seus principais componentes, o lítio, têm sido a escolha para soluções de mobilidade elétrica e de armazenamento local (ex: baterias solares em casa).

Em 2022, registou-se um crescimento global de 55% das vendas de veículos elétricos (VEs) face a 2021 e as estimativas para 2030, preveem que os VEs tenham 60% da quota de mercado global. A procura de veículos elétricos e de soluções de armazenamento local continuará a aumentar e, por inerência, a procura de baterias por parte dos seus fabricantes também, estimando-se que cresça 25% ao ano até 2025. Este enquadramento económico apresenta-se como uma clara oportunidade para os diversos países se posicionarem na cadeia de valor do lítio que se decompõe em 5 grandes fases: extração, refinação, produção de baterias, uso de baterias e reciclagem.
A China já tomou esse caminho com as empresas chinesas a ocuparem 6 lugares dos 10 primeiros no fabrico de baterias, representando 49% da quota de mercado global. Como forma de posicionamento, a UE já criou várias associações como a European Battery Alliance (EBA) ou RECHARGE para impulsionar esta indústria, tendo nos últimos anos, a Hungria, Alemanha e Espanha já anunciado vários planos de implementação de gigafactories para a produção de baterias.
Portugal detém as maiores reservas de lítio da Europa, com um valor estimado absoluto ainda por determinar. Em 2022, era esperado que o concurso associado à prospeção e pesquisa de lítio em Portugal fosse lançado, mas tal não se verificou. Este será fundamental para a fase de extração do lítio, que afeta as restantes fases da cadeia de valor. Está em desenvolvimento um projeto pela China Aviation Lithium Battery Technology (CALB), a líder mundial em produção de baterias, com o objetivo de produzir, a partir de 2025, 15GWh em baterias de ião-lítio e, a partir de 2028, triplicar a sua produção. A estratégia comunicada pela empresa é que toda a produção seja exportada para a Europa, apesar de vir a ser uma possibilidade tornarem-se um dos fornecedores da AutoEuropa em Palmela, criando assim um cluster de VEs em Portugal. Paralelamente, prevê-se a joint-venture Aurora, entre a Northvolt e a Galp, para a produção de hidróxido de lítio, uma matéria-prima para as baterias, que tem como objetivo iniciar em 2025 a produção anual de 28 a 35 mil toneladas.
Portugal pode posicionar-se também na fase de reciclagem destas baterias, que à medida que a procura de veículos elétricos aumentar, será cada vez mais necessária. Em 2030, prevê-se que a UE precisará de mais 18 vezes o lítio que usou em 2021 (e em 2050, mais 60 vezes).
Apesar de também existirem desafios ambientais, tecnológicos e ao nível da dimensão dos investimentos, as vantagens associadas ao lítio são inúmeras, desde a criação duma indústria transformadora no interior, onde a maioria das reservas existem, à exportação de baterias, reciclagem, etc.
A União Europeia é conhecida pelo forte planeamento e sentido crítico relativos a projetos com possível impacto ambiental, porém, com a forte liderança da China, a velocidade de implementação destes projetos tem que ser bastante superior para que não se perca a oportunidade.