Os últimos dias, semanas, meses e anos de gestão da Caixa Geral dos Depósitos, o nosso banco, são motivo de análise e preocupação. Não irei aqui discutir se o dinheiro, maioritariamente dos contribuintes, que irá ser injetado é suficiente ou excessivo face à realidade do seu balanço e às necessidades de financiamento da economia. Sei apenas que estamos a falar de uma quantia bárbara: cerca de 5 mil milhões de euros. E se a esta juntarmos outras quantias igualmente bárbaras como foram as que resultaram das injeções no Banco Português de Negócios, no Banco Espírito Santo e mais recentemente no Banco Internacional do Funchal, rapidamente chegaremos à conclusão que talvez fosse aconselhável analisar as “caixas negras” de cada um destes bancos.

Em todos estes casos, com comissões parlamentares de inquérito pelo caminho, ficou clara a incapacidade de algumas equipas de gestão, mas foi sobretudo óbvia a absoluta falta de prudência verificada na concessão de crédito. Ninguém hoje duvida que por detrás do crédito atribuído existiam outros negócios e outros interesses. E também hoje ninguém duvida que foi isso que deitou abaixo os bancos, levando ao seu encerramento ou a medidas de recapitalização brutais.

A discussão dos últimos tempos sobre a Caixa incidiu primeiro na composição da Administração. Eram apenas 19 os elementos indicados na altura. Depois, entre excluídos e enviados para formação em Fontainebleau, o número de gestores lá reduziu. Veio a seguir a discussão sobre os seus salários, o que, a avaliar pela posição do Presidente da República, é tema que ainda não deverá estar encerrado. No entretanto, largos meses depois de terem sido anunciados, tomaram finalmente posse. Tudo parecia, por fim, estar a acalmar quando surgiu o irresolúvel problema da entrega da declaração de património ao Tribunal Constitucional. Agora, anunciada que está a saída da equipa de gestão, ficamos a saber que o trabalho principal está feito: recapitalização em curso, redução de custos preparada e que passa fundamentalmente pela saída de 2.500 trabalhadores e pelo encerramento de 300 balcões. Sobre a recuperação de créditos nem uma palavra.

Já sabíamos que nos bancos que “morreram” dificilmente encontraremos o rasto às operações criminosas que os liquidaram. Excluindo os responsáveis óbvios – Oliveira e Costa e Ricardo Salgado – parece que pouco mais se saberá. Mas tínhamos a esperança que, num banco ainda “vivo”, fosse possível chegar ao apuramento de responsabilidades pelos crimes que sabemos terem sido cometidos. A composição da nova equipa não é uma formalidade. Talvez por aí consigamos ver se há alguma preocupação em fazer a justiça possível abrindo a “caixa negra” que por lá deve ainda andar. Para que a investigação não se resuma apenas a uma compilação de papéis que, no futuro, terão a mesma sorte e utilidade dos “papéis do Panamá”. Para que, no futuro, ninguém se lembre de continuar a brincar com o nosso dinheiro.