Nos últimos cerca de dez anos, assistimos na Europa, e em algumas partes do chamado Mundo Ocidental, a um ressurgimento de forças políticas tributárias de uma direita, digamos, mais radical.
Este movimento de radicalismo político havia já sido iniciado uns anos antes, pelo crescimento eleitoral de partidos do outro extremo político, os partidos da esquerda radical ou não democrática.
Este crescimento à esquerda nunca teve o impacto “mediático” que tem vindo a ter o crescimento dos partidos da direita mais demagógica e radical, talvez pelos ainda traumas ocidentais provocados pelo Nacional-Socialismo alemão ou o Fascismo Italiano, os quais têm maior propaganda negativa do que os exageros dos Khmers Vermelhos ou dos Soviéticos.
Na verdade, o crescimento de partidos da esquerda que abertamente recusam a União Europeia, a NATO e defendem regimes do tipo norte coreano ou ainda a antiga União Soviética nunca mereceu os rios de tinta que merecem os Vox, os Chega, as Front Nationale e/ou os partidos na Polónia e/ou na Hungria.
O que é certo é que desse crescimento resultaram geometrias parlamentares singulares e nunca vistas, onde se abriu espaço para essas forças políticas quási-não democráticas (de esquerda e de direita) com a concomitante redução da força dos partidos mais tradicionais, quer da direita liberal democrática quer da esquerda progressista democrática.
Soluções tipo “geringonça” em Portugal, ou “frankestein” em Espanha, ou mais radicais de tipo húngaro apareceram e vão “secando” as direitas liberais moderadas.
Ora, naqueles países onde a cultura política não deu azo a uma maioria da direita radical, mas unicamente a um crescimento parlamentar da direita radical, o que se assistiu foi ao domínio crescente da esquerda sobre a direita, precisamente brandindo os receios de um novo fascismo e com isso aniquilando os resultados da direita tradicional.
O efeito tem sido de tal modo que se tem assistido a uma afirmação de uma maioria agregada da esquerda moderada com a participação activa da esquerda radical.
O racional tem sido o seguinte: votem em nós esquerda, para impedir que a direita fascista chegue ao poder. O resultado tem sido que a direita tradicional se encontra refém de um “movimento em pinça”: de um lado, perde votos para uma direita radical e por outro lado, perde votos para uma esquerda moderada.
Ou seja, a direita tradicional não consegue formar governo, mesmo que seja o partido mais votado. Veja-se em Passos Coelho e veja-se em Feijóo.
A isto acresce, em Portugal, um outro fenómeno preocupante: a direita tradicional estava já fragmentada entre um partido ligeiramente de direita (o PSD) e um outro partido tributário dos valores mais conservadores (o CDS). Com a chegada do Chega (perdoe-se a repetição, apesar de consciente), o CDS desaparece do panorama parlamentar (por erros estratégicos de vária índole) e, no transe, torna-se eleitoralmente insignificante.
Este facto tem uma consequência séria para grande parte do eleitorado da direita conservadora tradicional: ficou sem casa.
Pura e simplesmente, a direita conservadora/liberal e responsável não deseja votar num partido da direita radical, populista e quási-não democrático, mas também não consegue votar num partido, ainda assim, demasiado estatista e socialista como o PSD (para mais, quando nos últimos anos, este PSD se aproximou muitíssimo do PS).
Melhor música para a esquerda não poderia haver, pois pode assim, continuar a aliar a esquerda moderada com a esquerda radical e a marcar ideologicamente a agenda política. Impedindo e amordaçando as ideias da direita.
Como se viu em Espanha, nas recentes eleições, a direita, no estado actual das coisas, mesmo ganhando as eleições nunca conseguirá formar governo parlamentar.
O medo da vinda do “papão” da direita radical assusta muito mais do que o “papão” da esquerda radical e, portanto, provoca a fuga de eleitorado, da direita moderada para a esquerda moderada, e de parte da direita conservadora para a direita radical (por falta de outra opção) e da outra parte da direita conservadora para a direita moderada (os que conseguem “engolir o sapo”).
Em Portugal, parece-me que só há uma solução: o PSD terá de fazer uma grande Casa da Direita Democrática. Uma nova Aliança Democrática pré-eleitoral.
Como? O PSD terá de “puxar” pelo CDS e chamá-lo para uma coligação pré-eleitoral, dando-lhe um ou dois deputados. Criar-se-á, assim, um espaço de albergue para a direita conservadora que agora vota Chega, porque nem acredita em um CDS desaparecido e nem acredita em um PSD esquerdizante.
Só com uma Casa da Direita Democrática, reformada e fresca é que a direita conservadora e liberal esvaziará a direita extrema e populista (afastando a possibilidade de um governo com esta última, algo que assusta muita boa gente) e terá força eleitoral suficiente para vencer a agremiação das esquerdas, soltando o País deste autêntico nó górdio.
Do lado do PSD, o PSD sozinho não consegue uma maioria absoluta. Ao PSD mais valerá ajudar clinicamente (ou cinicamente) o CDS a regressar ao parlamento.
Caso contrário, o PSD continuará a ver diminuída constantemente a sua força política, pela fuga de votos para a direita radical (que continuará a sorver eleitores que se sentem órfãos de solução política com assento e influência parlamentar) ou para o centro-esquerda, atraídos pela miragem de governo.
Aliás, bastará olhar para as últimas eleições em Portugal para se constatar que a maioria absoluta do PS se deveu, em grande medida, à fuga de votos do PSD para o PS e do PSD para o Chega.
É necessário que um partido de direita conservadora responsável e liberal volte a ter força para voltar a agremiar a direita que fugiu para os radicalismos, seja do Chega seja da Iniciativa Liberal. Em Portugal, nestes tempos, ainda só há um partido de direita conservadora responsável: o CDS. Mas que sozinho nada conseguirá.
O CDS terá de ser agregado, em equipa, ao PSD para formar a tal Casa da Direita Democrática. Só assim haverá uma chance de expulsar a esquerda do poder em Portugal e diminuir o poder de atracção do Chega/Iniciativa Liberal.
Olhemos para a Espanha – o PSOE com uma solução ainda mais “frankenstein” que a anterior só não continuará no poder se o Rei achar que os partidos independentistas não podem (ou não merecem) participar em tal poder. Caso contrário, a solução de governo continuará na mão das esquerdas (moderada com a radical). Em Portugal, pode ser que ainda não seja tarde demais…
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.