A evolução da economia tem sido acompanhada por ciclos de exuberância, mais conhecidos por bolhas. Estes fenómenos contribuem para atrair capital para empresas inovadoras e impulsionar a onda transformadora em curso.

Foi assim, com os têxteis, comboios, carros, rádio, computadores, software e, agora, com a Inteligência Artificial (IA), que parece ter conquistado um novo fôlego, desta vez imparável, com as grandes tecnológicas mundiais a não quererem perder a próxima grande onda transformativa na economia.

Na base desta nova fase estão mais de duas décadas de dados acumulados, que serviram para mapear árvores de decisão, criar modelos de interacção e de interconexão. Para que a IA possa ter este crescimento exponencial, têm sido investidos milhares de milhões na infra-estrutura de telecomunicações, centros de dados e servidores, que podem representar até ao final da década cerca de 20% da electricidade mundial consumida, face a menos de 5% no início da década.

Vem este dado a propósito de uma das maiores surpresas na divulgação de resultados dos últimos anos de uma empresa, a Nvidia, que produz chips, placas gráficas e centros de dados. O crescimento exponencial do investimento em centros de dados explica grande parte da sua valorização, superior a 210 mil milhões de dólares, ou o equivalente ao PIB português, em apenas um dia.

Apesar da empresa transaccionar a valorizações muito elevadas, ninguém quer ficar fora da corrida a uma nova era, com os investidores a não olharem a preços e muitos a concentrarem os seus investimentos na moda.

Mas a concentração não se fica pelo mercado de capitais, onde as cinco maiores capitalizações nos Estados Unidos são responsáveis por grande parte dos ganhos dos índices este ano.

Também a concentração, de muitas empresas e países, na China, como motor de crescimento para os próximos anos, começa a ser colocada em causa. A reabertura da economia chinesa não se está a repercutir em maiores gastos dos consumidores chineses, com estes a preferirem guardar as suas poupanças, talvez em face da incerteza vivida depois de mais de dois anos de pandemia.

Por exemplo, as empresas do sector luxo começam a confrontar-se com maior dificuldade no crescimento das suas vendas, e o sector imobiliário está novamente a sofrer uma reviravolta, com a venda de casas a baixar drasticamente. Só a cidade de Pequim sofreu uma queda de 37% nas vendas em Abril, e alguns construtores começaram a baixar os preços do imobiliário, o que pode criar um efeito de bola de neve, com os bancos a terem de reavaliar os seus empréstimos e a registarem perdas nos mesmos, num cenário muito semelhante à bolha do imobiliário que afectou os Estados Unidos em 2008.

Os perigos para a recuperação económica em 2024 começam a ser mais claros. A concentração do investimento em sectores ou países, num ambiente de taxas de juro elevadas, pode trazer desilusões ao mesmo tempo que o mundo continua a sofrer o impacto das alterações climáticas, com o preço de bens agrícolas, como o café ou o azeite, em máximos históricos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.