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A Covid-19 veio alargar o fosso entre Wall Street e o mundo

Os fundos nacionais dedicados às ações norte-americanas continuam a somar ganhos, animados pelos tecnológicas e os estímulos. Nas ações europeias, o quadro é de rendibilidades negativas a toda a linha.
12 Julho 2020, 10h00

As tabelas raramente mentem. Na maioria das vezes servem para demonstrar ou confirmar a percepção que temos dos factos. Das 21 tabelas que constam no último relatório da Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP) sobre as rendibilidades anualizadas das diferentes categorias de fundos de investimento mobiliários nacionais, somente uma demonstra apenas números positivos: Fundos de Ações da América do Norte.

Contabilizando o retorno anualizado a um ano, até 19 de junho, os seis fundos dessa categoria apresentam rendibilidades positivas, uma tendência que se estende também ao retorno a dois anos.

O fundo IMGA Ações América- Classe A lidera de forma destacada o ranking com uma rendibilidade de 10,05%, seguido do BPI América Classe A com um ganho de 7,58%, enquanto o mesmo fundo com Classe devolveu um retorno de 3,34%. As classes definem o nível de exposição ao risco dos fundo, sendo a A a que incorre mais risco.
O desempenho positivo desta categoria dedicada a ações norte-americanas espelha o otimismo que tem permeado os principais índices acionistas em Wall Street no cômputo global do último ano.

Não foi, certamente, um ano puro de ganhos lineares, longe disso. Na segunda metade do ano passado, a Reserva Federal (Fed) norte-americana cortou a federal funds rate três vezes seguidas, em agosto, setembro e outubro, em 25 pontos base cada vez. A lógica da instituição liderada por Jerome Powell era de criar uma “apólice de seguro” contra os riscos que a maior economia do mundo enfrentava, especialmente devido ao intensificar da guerra comercial com a China.

Esse conflito aduaneiro viria atenuar com o acordo “fase um” em janeiro, dano novo fôlego aos índices, especialmente ao tecnológico Nasdaq, que atingiu um novo recorde a 18 de fevereiro. A chegada da pandemia de Covid-19 ao Ocidente, provocou, no entanto uma queda a pique em março, nas bolsas globais e as de Wall Street não foram poupadas.

A bazuca de estímulos monetários lançada pela Fed, aliada aos opoios orçamentais proporcionaram uma recuperação parcial, mas rápida, e o segundo trimestre foi dos melhores em décadas.

 

Europa com retorno negativos
Os dados da APFIPP demonstram o contraste dessa história com a que afectou os fundos de ações europeus.
Na categoria de fundos de ações da União Europeia, Suiça e Noruega as rendibilidades de dez dos 11 fundos são negativas a um ano, indo de perdas de 7,6% a 15,02%. A dois anos, as rendibilidades são apenas ligeiramente menos negativas. Na tabela dos fundos de ações nacionais, o vermelho é ainda mais prevalecente, com quedas entre os 13,38% e os 18,62% a um ano.

O Banco Central Europeu hesitou, mas depois acabou por lançar o seu próprio arsenal de estímulos perante o espectro de uma nova crise financeira e das dívidas soberanas. No entanto, a demora em chegar a um acordo na União Europeia sobre um plano de recuperação perdura até hoje e limitou a recuperação das bolsas do Velho Continente. Aliado a esse fator, os analistas apontam para a escassez de títulos do setor tecnológico a Europa que permitam capitalizar na digitalização que o confinamento veio acelerar.

Em termos dos fundos setoriais europeus, os dados da APFIPP revelam ganhos em apenas um deles, e sem grande supresa: o Montepio Euro Heathcare, com uma rendibilidade anual de 12,92%. O setor da banca, um dos mais penalizados pela crise, está representado nos dados pelo fundo IMGA Eurofinanceiras, que teve uma rendilidade negativa de 22,90% a um ano e de 15,08% a dois anos.

A reação enérgica dos bancos centrais, com cortes de taxas de juros e programa massivos de compra de dívida, veio limitar, naturalmente os retornos com investimento em obrigações, num ambiente de yields ultra baixas, especialmente nas dívidas dos países desenvolvidos.

Os dados da APFIPP demonstram esse sintoma, com os fundos de obrigações da zona euro a apresentarem rendibilidade num intervalo de entre perdas de 5,45% e ganhos de 2,96%. A maioria dos fundos dessa categoria, 10 de um total 13, apresenta, rendibilidaded negativas.

“Limpinho, limpinho” no verde, somente os fundos exclusivos à América do Norte.

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