Passaram algo despercebidas as declarações de Christine Lagarde na terça-feira passada, a propósito do impacto da crise bancária na reunião de março do Banco Central Europeu.

A presidente do Banco Central Europeu (BCE) entendeu adequado admitir que “as tensões financeiras recentes podem deprimir a procura” e, por esse motivo, “ajudarem a fazer um trabalho que, de outra forma teria de ser feito pela política monetária”. Para não deixar dúvidas, reconheceu que “sem essas tensões, o BCE teria de indicar que iria subir mais os juros”.

Desde logo, salienta-se a escolha de palavras. Ao dizer que uma crise “ajuda”, fica a ideia de ela é bem-vinda. Há algum cinismo ao não se reconhecer que a crise bancária comporta riscos. Ela apenas foi vista como uma… “ajuda”. A subida dos juros de forma rápida e extensa que se tem verificado nas principais economias, arrisca gerar choques e falências, como se tem visto.

A outra expressão escolhida por Lagarde foi que [as tensões] “podem deprimir a procura” e isso é visto como positivo. Há muitos analistas – sou um deles – que consideram que a subida dos juros efetuada pelos bancos centrais tem sido demasiadamente rápida e extensa, porque esta inflação não tem como génese nem excessos de procura nem fatores eminentemente monetários.

De declarações como estas, fica-se na dúvida se o objetivo não será mesmo subir os juros até que eles provoquem uma crise séria. Seria um fator deflacionista? Seguramente. Mas a que custo?

Subir taxas para combater uma inflação que tem como causas, sequencialmente, o fim da pandemia, dificuldades logísticas, subida de preço das commodities, guerra, problemas em algumas colheitas e expansão de margens das empresas, parece ser desproporcional e socialmente injusto.