A cultura organizacional associada à prestação de cuidados de saúde, tradução imperfeita de “Culture of Care”, tem implicações que vão muito além do ambiente e colaboração entre equipas, podendo, inclusive, influenciar a qualidade e a segurança dos cuidados prestados aos utentes. A relação entre a qualidade dos cuidados prestados e o ambiente sentido pelos profissionais é bidirecional, na medida em que os parâmetros de qualidade e segurança são indissociáveis do grau de comprometimento e satisfação dos profissionais, nas diferentes categorias e rankings.

Nesse sentido, variações na cultura organizacional entre prestadores podem influenciar, de modo holístico, toda a arquitetura de uma instituição, contribuindo para diferenças de liderança, gestão e governação.

Se a Cultura Organizacional impacta o funcionamento das Instituições, cada vez mais se compreende que é necessário existirem ferramentas que a possam medir, com rigor e algum grau de objetividade. Só com um Diagnóstico de Situação estruturado é que é possível estabelecer-se uma estratégia que permita mitigar riscos, corrigir erros e alcançar um ambiente que atinja os níveis de eficácia e segurança mais desejados.

Assim, tendo como referência um instrumento desenvolvido pelo King’s College e aplicado originalmente no NHS, a primeira edição do “Barómetro da Cultura Organizacional associada à Prestação de Cuidados” permitiu avaliar, junto dos profissionais de saúde, um conjunto de normas e valores nas instituições do SNS em que trabalham, ao nível de alguns temas relevantes, consensuais na literatura (dimensão organizacional, apoio das equipas, relacionamento entre profissionais e constrangimentos associados às funções desempenhadas).

A avaliação dos mesmos permitiu, por sua vez, chegar a algumas conclusões. Estas conclusões podem ser divididas em dois grandes grupos, definidos pelos temas que suscitaram ou maior grau de satisfação, ou maior grau de insatisfação.

Como temas que suscitam maior nível de satisfação por parte dos profissionais, destacam-se:
A existência de um grande sentido de orgulho por parte dos nossos profissionais de saúde, com o respeito, companheirismo e entreajuda a serem evidenciados como pontos fortes nas equipas.

A existência de figuras de referência nos locais de trabalho, reforçadas pelo apoio e acompanhamento construtivo dado por superiores hierárquicos diretos.

Por outro lado, como temas que suscitam menor nível de satisfação por parte dos profissionais, destacam-se:
A ausência de valorização do trabalho efetuado, com a maioria dos respondentes a identificar a falta de oportunidades em influenciar formas de trabalhar.
Um desalinhamento entre a liderança e equipas operacionais, indiciando uma ausência de liderança próxima.

Analisando os aspetos mais e menos positivos, torna-se percetível que, num contexto em que a atração e retenção de talento é mais desafiante do que nunca, é fundamental defender e potenciar uma cultura de pertença e um ambiente de trabalho inclusivo: são estas valências que continuarão a reforçar o propósito de trabalhar no SNS com equipas de profissionais unidas, suportadas com figuras de referência. Por outro lado, destaca-se a necessidade premente de uma comunicação efetiva entre as várias componentes da estrutura do SNS de modo a aproximar as pessoas e reduzir os receios causados pela mudança em curso liderada pela transição digital e pela eficiência do funcionamento das instituições e do sistema em si.

Num ano que é de grande expetativa para o setor, que procura reafirmar-se – e reinventar-se – após a crise pandémica, os resultados deste barómetro trazem-nos o conforto de uma equipa do SNS unida em torno do sentimento de pertença e orgulho no propósito das suas atividades, condições base para qualquer processo de mudança, e evidenciam uma clara necessidade de introdução de reformas, com desenho de um programa de gestão robusto e que capacite os nossos profissionais de saúde para uma liderança mais inspiradora, próxima e participativa.