Pior do que seguir o caminho errado é não saber para onde se vai. Mais tarde ou mais cedo, um navio sem rumo tem como destino desfazer-se nas rochas.

Durante os últimos anos, à semelhança de muitas outras empresas de Oil & Gas, a Galp correu o risco de vir a ser esse navio. Tendo pela frente um adamastor chamado transição energética, que ameaça colocar um prazo de validade à sua própria existência, a petrolífera nacional parecia estar condenada a uma navegação à vista que teria como previsível resultado o seu desmantelamento progressivo ao longo das próximas décadas.

A escolha de Andy Brown para a liderança da empresa poderá, no entanto, ter constituído um momento de viragem, se os atos corresponderem às palavras. O gestor britânico conduziu esta semana um “mini-Blitzkrieg” mediático que serviu para passar duas ideias chave que visam demonstrar que a Galp tem agora um rumo claro.

A primeira mensagem é que a empresa está comprometida com a transição energética e que pretende liderar esse processo, ao invés de ser “pressionada pela sociedade e pela regulação”, segundo Andy Brown. A desistência de novas atividades de prospeção de petróleo e gás será acompanhada de uma aposta crescente no hidrogénio, nos biocombustíveis e no lítio.

A segunda ideia é que a Galp quer o apoio do Estado para descarbonizar a refinaria de Sines, ao longo das próximas décadas, admitindo que, caso essa “parceria” não exista, o destino daquela unidade será semelhante à de Matosinhos, encerrada em abril.

Andy Brown está certo quando afirma que é necessário reinventar a refinaria de Sines. E o facto de o novo CEO da Galp ter levantado este tema demonstra que, ao contrário de outros no passado, compreendeu que a empresa só terá futuro se souber transformar-se e adaptar-se à nova realidade que o mundo tem pela frente.

Resta saber, porém, se é do interesse dos contribuintes portugueses pagarem a fatura da transição energética de uma empresa que até setembro registou lucros de 367 milhões de euros. E que, nos últimos anos, distribuiu muito mais do que isso aos seus acionistas.

Tal como as outras empresas dos sectores do petróleo e do gás natural, a Galp tem dois caminhos pela frente: ou se reinventa e avança no sentido da transição energética, como defende Andy Brown e fazendo os avultados investimentos necessários para tal (“estamos a colocar metade do nosso dinheiro em energias verdes”, diz o gestor); ou decide entregar as joias e os anéis aos seus acionistas, para que estes invistam em outros projetos que já estejam numa fase mais avançada da transição energética.

Qualquer que seja o caminho, esperemos que mais uma vez o “interesse nacional” não seja invocado para obrigar os contribuintes a pagar uma fatura que os privados não queiram assumir.