Muito se tem falado sobre a Taxa Social Única (TSU), que vai sofrendo várias convulsões enquanto escrevemos este artigo, mas a tónica deste texto vai centrar-se em PPC. Não se canse o leitor a tentar descortinar na sigla um novo partido – pese embora a designação “Partido dos Precipitados e Confusos” lhe desse boa acolhida. Referimo-nos a Pedro Passos Coelho, esse político com “p” minúsculo e intranquilidade com “I” gigante. Até os mais desatentos e os seguidores de telenovelas terão escutado algures no passado, PPC defender a descida da TSU com grande veemência. Agora, quiçá possuído pelo diabo ou com o diabo de uma “disfuncionalidade cognitiva temporária”, o presidente do PSD advertiu o PS para não contar com o seu voto na apreciação parlamentar do diploma que reduz a TSU das empresas.

Para PPC o que está em causa não é a TSU, mas uma medida do PS da qual tem a crença de que terá de ser sempre contra. Meninice, criancice ou perrice, o que PPC pretendia dar ao Governo era uma “chatice”. E é vê-lo ufano, com ar de quem pregou uma imensa rasteira ao executivo que o “desapossou” do trono do poder. Os lábios finos deram lugar a um sorriso matreiro, ao mesmo tempo que transmitem a ideia de que PPC jamais será uma muleta útil para o PS. Numa atitude birrenta, o líder do PSD sobrepôs a sua vendeta pessoal ao interesse do partido e do país. Marques Mendes fala em “erro monumental” e “grande incoerência”, Marcelo apela à serenidade e Manuela Ferreira Leite refere que o PSD “devia estar calado” (ups!). Não se pense, porém, que PPC fica sozinho neste cenário: tal garanhão que se deita à noite com uma lady e de manhã se depara com uma carcaça, PPC acordou da sua jogada e viu ao seu lado o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista e… Ribeiro e Castro que defende nas redes sociais que o PSD “não tem a menor obrigação de ser a trotinete do governo”.

Entre geringonças, muletas e trotinetes, quem parece sair deste tema em cadeira de rodas é o próprio PPC. Para além de ficar encolhido dentro do seu partido e de oferecer canadianas à extrema esquerda, PPC é acusado de estar a estraçalhar o PSD e pode acabar visto como um cangalheiro se não salvar a concertação social, tão defendida pelos antepassados do seu partido. Adivinhamos PPC em casa, a fazer beicinho, com o lábio a tremer, a queixar-se à mulher de que achava que estava a fazer o melhor para o PSD e que imaginava que os militantes do partido iriam ficar orgulhosos por ele ter conseguido apanhar o babush desprevenido numa esquina de Goa e distraídos os enlutados de Soares.

PPC arrisca-se a ficar na história do partido, sim, mas pelo pior dos motivos: a sua descaracterização. Ao lançar aquela que considerou uma grande cartada, esqueceu-se que lhe faltavam trunfos para o final e o elemento que lhe pareceu para o caso de somenos importância – e que colocou de lado para poder fazer a graçola de comprometer o PS – talvez não aprecie ser subestimado. Os patrões costumam ter boa memória e não vai ser fácil esquecer esta patetice. Acusado várias vezes por Marques Mendes de se fazer de morto diante de Costa, PPC ressuscitou no pior momento possível. O problema é que o retrato de um PPC impulsivo e irrefletido vai irremediavelmente apenso “à setinha” dos boletins de votos das autárquicas. Costa talvez tenha perdido algo menor – saindo, porém, imaculado por tudo ter feito e a todos ter tentado agradar – para conquistar algo maior. Dedos acusatórios apontam em riste para Costa, pelo facto deste não ter perscrutado o PSD nesta matéria, mas como levar esta crítica a sério se o próprio PPC tampouco indagou os seus camaradas, atuando neste filme como um “one-man show”?

Como diz PPC na sua biografia, “somos o que escolhemos ser”. Quando escolhemos mal basta, contudo, pedir que nos “desobriguem” dessa nossa má escolha. Talvez PPC se deva desobrigar daquilo que nunca conseguiu ser – um líder político com carisma – e possa escolher fazer aquilo para que tem jeito: cantar… de galo.