Uma ideia muito comum, que se ouve por estes dias, é a de que a eventual realização de eleições antecipadas teria um impacto negativo na economia, devido à instabilidade que provocaria.

A estabilidade política é, dizem-nos, fundamental para que haja crescimento económico.

As falácias mais perigosas são aquelas que assentam em premissas que são universalmente aceites como verdadeiras. E esta ideia de que a estabilidade política deve ser preservada a todo o custo, a bem da prosperidade geral da nação, será uma dessas falácias difíceis de detetar.

Claro que a estabilidade política pode ser importante para que haja crescimento económico. Mas nem toda a estabilidade política contribui para o desenvolvimento e o crescimento económico. A estabilidade não pode ser um fim em si mesmo. A Coreia do Norte vive em estabilidade política há décadas e a sua economia está longe de ser um exemplo. O mesmo se poderia dizer da Cuba castrista, do Portugal do Estado Novo (até ao final dos anos 50) ou da União Soviética de Brejnev e Andropov. Estabilidade não significa, necessariamente, prosperidade.

Em contrapartida, há décadas que Itália muda de governo como quem muda de camisa, mas continua a ser uma potência económica (tem problemas por resolver, à semelhança de outros países da zona euro, mas os mesmos não se devem à instabilidade governativa).

O que faz a diferença é aquilo que se faz com a estabilidade política. Serve para fazer reformas estruturais? É aproveitada para definir uma estratégia nacional nos temas fundamentais para o nosso desenvolvimento? É acompanhada de previsibilidade a nível fiscal e regulatório, para assegurar as condições necessárias à atração de investimento? Permite oferecer aos investidores estrangeiros condições previsíveis para que possam apostar no nosso país, sem receio de um qualquer volte-face, meia dúzia de anos depois, que altera as regras a meio do jogo? É uma estabilidade que preserva o prestígio das instituições e a normalidade democrática, contribuindo para uma democracia madura e saudável?

Não interessa ao país a estabilidade que serve apenas para manter determinada família política no poder.

Não interessa ao país a estabilidade que existe para que quem está no poder possa distribuir uns apoios e umas esmolas, aqui e ali, pelas diferentes clientelas eleitorais, criando uma sociedade onde a dependência – e, não raras vezes, o servilismo – passam a ser entendidos como virtudes.

Não interessa ao país a estabilidade que serve para que tudo fique na mesma. Os atoleiros, que prendem os incautos que por eles passam, impedindo-os de progredir, também podem ser considerados estáveis.