A recente tensão geopolítica aumentou a incerteza que já afectava os investidores e as principais economias desde o início do ano. A subida continuada da inflação, apoiada no aumento dos custos da energia e na disrupção das cadeias de abastecimento, tem consequências duradouras à medida que as empresas começam a transferir o aumento de custos aos seus clientes.

Por outro lado, o conflito latente entre a Rússia e o Ocidente, representado pela Ucrânia, tornou-se inevitável, sendo necessária uma clarificação e estabilização da situação criada desde a anexação da Crimeia. A forte dependência do gás russo, o facto de a Rússia ser o terceiro maior produtor de petróleo e o seu poder militar, fazem com que este conflito seja de difícil gestão para os países importadores de energia.

Acresce, a reboque da transição energética e da penalização das empresas petrolíferas por todo o mundo, que o investimento na prospecção de petróleo diminuiu substancialmente, criando um problema de oferta. Estima-se que a procura de petróleo supere os níveis pré-pandémicos, ou seja, 100 milhões de barris de petróleo por dia, sem correspondente aumento da oferta. As energias renováveis vieram colmatar o aumento global do consumo de energia, mas até agora não reduziu a dependência do petróleo.

Perante isto, o aumento dos preços do petróleo traduz-se, na prática, numa transferência de riqueza entre países, uma vez que os custos da produção de petróleo na Rússia ou na Arábia Saudita não aumentaram, apesar de o preço pago pelos países importadores ter disparado.

Esta instabilidade permite transferir diretamente recursos das populações da Europa e de países que não produzem petróleo, empobrecendo-os, para a Rússia e Médio Oriente, financiando assim políticas que são contrárias aos ideais defendidos.

Se pensarmos que, com o aumento dos custos da energia, temos uma inflação que alastra por toda a sociedade e a perspectiva de subida das taxas de juro, percebemos que estamos perante uma situação de empobrecimento real, sustentado e com consequências sociais e institucionais a prazo.

Ao longo da última semana fomos bombardeados com informações contraditórias, como seja a retirada de tropas russas, a expulsão de elementos do corpo diplomático, ou notícias que dão por certa a invasão da Ucrânia. Toda esta incerteza contribuiu para um maior agravamento dos problemas existentes e para o aumento da volatilidade dos mercados e, consequentemente, da política económica dos governos.

Os investidores iniciaram a procura por activos refúgio, que são activos com muita liquidez e que, historicamente, protegem de acontecimentos extremos. Estes activos são o ouro, o dólar americano, as obrigações americanas e alemãs, ou o franco suíço.

Cientes dos riscos acrescidos de um conflito bélico, a Reserva Federal dos EUA admitiu nas suas minutas que iria iniciar a subida das taxas de juro, mas de forma mais cautelosa, em 0,25%. Pode, pois, dizer-se que a geopolítica e a Rússia controlam agora o ritmo da subida das taxas de juro.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.