Num momento de transição para um modelo económico mais verde, poderão as frotas ser o grande impulsionador do processo de eletrificação do setor dos transportes?
No seu plano estratégico de longo prazo (Pacto Ecológico Europeu), a União Europeia ambiciona atingir a neutralidade de emissões de gases de efeito de estufa até 2050 e cumprir, dessa forma, os objetivos estipulados no Acordo de Paris. A eletrificação, através da utilização de fontes de energia renováveis e eliminação gradual dos veículos a combustão, contribuirá significativamente para o objetivo global da descarbonização. Dado que o setor dos transportes representa cerca de 25% do total de emissões de gases com efeito de estufa na Europa, para alcançar a neutralidade climática será necessária uma redução de 90% das emissões dos transportes até 2050. Atualmente, apenas cerca de 3 milhões de veículos num universo de 308 milhões na Europa são elétricos. A expectativa é de que este número cresça pelo menos 1200%, até 40 milhões de veículos, em 2030.

De acordo com um estudo desenvolvido recentemente pela EY e Eurelectric1, as frotas representam cerca de 20% do total de veículos na Europa, no entanto percorrem mais de 40% do total de quilómetros e são responsáveis por 50% do total de emissões. A questão ambiental é prioritária e tem vindo a ser materializada com metas concretas para redução de emissões. Adicionalmente, têm vindo a ser impostas medidas como zonas de emissão reduzida nos centros urbanos, pressionando companhias e instituições a avançar com a eletrificação. A Uber, por exemplo, ambiciona operar uma frota 100% elétrica na Europa até 2030 e globalmente até 2040 e está já a mobilizar recursos para acelerar esta transição.

Para além da questão ambiental e regulatória, existem outros incentivos específicos que deverão acelerar a eletrificação de frotas, dos quais destacamos dois. Primeiro, a viabilidade operacional – os veículos de frota, na sua maioria, têm um padrão de mobilidade mais regular e percorrem distâncias diárias consistentes, podendo beneficiar de carregamentos inteligentes (planeamento otimizado dos carregamentos em função das necessidades do utilizador e da oferta de eletricidade disponível na rede). Segundo, a viabilidade económica – o custo total de detenção de veículos elétricos (Total Cost of Ownership) tem vindo a diminuir, sendo que os veículos de frota poderão beneficiar de poupanças significativas em custos operacionais como energia e de manutenção, dado que percorrem em média mais quilómetros.

Nesse sentido, a EY desenvolveu um modelo de Total Cost of Ownership, suportado numa plataforma tecnológica já em implementação no terreno, que permite avaliar os verdadeiros custos associados a frotas elétricas e respetiva paridade face a veículos de combustão. O modelo tem em conta as variáveis de investimento para a aquisição, incentivos, custos operacionais e de manutenção e introduz maior clareza no desenvolvimento de planos de transição. Na prática, permite avaliar se e quando determinada frota deverá transitar para elétrica, analisando padrões reais de condução, bem como comparando o Total Cost of Ownership financeiro. De forma geral, é possível concluir que as frotas de veículos empresariais, veículos de serviço partilhados e veículos comerciais ligeiros serão as primeiras a eletrificar, dadas as suas características específicas (custo, distâncias que percorrem, previsibilidade de rotas, etc).

A aceleração da eletrificação de frotas representa, assim, uma clara oportunidade para a descarbonização do setor. A criação de bases e condições decorrentes desta aposta, como a diversificação da oferta, o reforço da infraestrutura de suporte (postos de carregamento) e o enquadramento regulatório, irá ditar a rapidez da eletrificação do restante mercado de veículos.