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“A indústria seguradora está à beira de uma mudança de paradigma”, defende Mckinsey

“A indústria está à beira de uma mudança de paradigma – e as seguradoras enfrentam questões estratégicas fundamentais. Antecipar e preparar-se para as tendências emergentes assume uma importância sem precedentes”, defende Rui Neves, sócio sénior da McKinsey & Company.
15 Fevereiro 2022, 15h09

As seguradoras devem encontrar um foco para adaptar-se aos desafios emergentes criando valor, defende um novo estudo da McKinsey, na área das seguradoras, intitulado “Global Insurance Report 2022”, divulgado esta terça-feira.

“A indústria seguradora tem tido dificuldades em gerar lucro económico, mas as mudanças duradoiras causadas pela Covid-19 trazem consigo novas oportunidades”, defende a McKinsey & Company, que no seu relatório Global Insurance Report 2022, “fornece uma visão abrangente das oportunidades e desafios que as seguradoras enfrentam, e endereça os efeitos da pandemia nos negócios, assim como as tendências emergentes que irão moldar a indústria”.

“A indústria está à beira de uma mudança de paradigma – e as seguradoras enfrentam questões estratégicas fundamentais. Antecipar e preparar-se para as tendências emergentes assume uma importância sem precedentes”, defende Rui Neves, sócio sénior da McKinsey & Company.

A indústria seguradora encontra-se numa encruzilhada. Agora é o momento para estas empresas agirem e aproveitarem as oportunidades para se reinventarem através da criação de valor, defende o estudo.

Nos próximos anos, a indústria global de seguros será profundamente moldada por algumas megatendências que surgiram e se aceleraram desde fevereiro de 2020, lê-se no relatório. Algumas são mudanças na macroeconomia; outras são mudanças na dinâmica competitiva. As mais dramáticas podem ser as mudanças nos comportamentos dos clientes e empregadores, defende a McKinsey.

De acordo com o relatório da consultora, algumas destas questões estratégicas incluem a resposta a questões de como podem as seguradoras criar valor para os acionistas, melhorar a experiência dos clientes, e atrair e reter talento? De como podem, individual e coletivamente, reformular o papel e o propósito dos seguros na sociedade?

Para fazer frente a estes desafios, a McKinsey identifica nove princípios que as equipas de liderança devem seguir. O primeiro é fazer dos princípios ambientais, sociais e de governança (ESG) uma característica central no modelo de negócio.

Embora muitas seguradoras tenham começado a incorporar o risco climático nos seus processos de investimento, muitos dos novos lançamentos de produtos e processos de subscrição, mantêm-se maioritariamente inalterados, constata o estudo.

O segundo desafio é “recuperar a relevância através da inovação de produtos e cobertura de novos riscos. Novos riscos exigem novos produtos e uma realocação de prioridades, e representam oportunidades significativas para seguradoras dos ramos vida e não vida que estão dispostas a inovar”.

Depois é preciso “melhorar e personalizar o envolvimento e a experiência do cliente. Uma experiência ininterrupta e omnicanal é agora o padrão de ouro para as seguradoras”.

“Envolver-se com o ecossistema e as insurtechs”, é outro dos desafios. A investigação da McKinsey sugere que os ecossistemas poderiam abranger cerca de 70 biliões de euros de lucro em 2030. “Muitos executivos nesta indústria estão agora a estudar formas de se envolverem com os ecossistemas emergentes em áreas como a mobilidade, saúde e a casa conectada”, diz a consultora de gestão.

O quinto desafio apontado passa por “desenvolver novos negócios para a era digital. Os investidores privados identificaram potencial para melhorar e uma perspetiva não muito distante de rendimentos atrativos nos seguros”.

A McKinsey defende ainda que as seguradas precisam de “escalar o impacto a partir de dados e analytics. Os líderes veem um enorme potencial na capacidade dos dados e analytics em toda a cadeia de valor, mesmo para as empresas como melhor desempenho”.

Outro desafio passa por modernizar as principais plataformas tecnológicas. “A digitalização está a pressionar os sistemas mais datados, alguns dos quais com décadas de existência, e muitas seguradoras estão a considerar uma substituição dos sistemas base por plataformas tecnológicas que suportem os requisitos da era digital”, defende o estudo.

É também preciso, de acordo com esta análise, “endereçar o imperativo da produtividade. Cada operadora é única, mas qualquer empresa pode começar o seu processo de melhorar a produtividade ao estabelecer a trajetória e o potencial de desempenho total do negócio em toda a cadeia de valor – incluindo nas vendas e distribuição, desenvolvimento de produto, operações, tecnologia e funções corporativas”.

Por fim a McKinsey desafia o setor a “repensar a cultura, diversidade, e formas de atrair e reter talento. O regresso ao local de trabalho é uma oportunidade de começar um novo e mais eficaz modelo operacional, que funciona para empresas e pessoas num mundo de crescente incerteza”.

O relatório da McKinsey demonstra que as operadoras não precisam de pensar apenas “como jogar”, mas também de avaliar “onde jogar” em termos de geografia, linhas de negócio, e posição na cadeia de valor.

O estudo relata que em 2020, primeiro ano da pandemia, o crescimento dos prémios desacelerou para aproximadamente 1,2%  ao ano (em comparação com mais de 4% ao ano entre 2010 e 2020). Os lucros caíram cerca de 15% em relação a 2019. O declínio foi mais acentuado na Ásia-Pacífico (queda de 36%) e foi particularmente impulsionado pela queda dos lucros no ramo vida. A análise sugere que, segundo dados preliminares, o crescimento dos prémios e dos lucros recuperaram em 2021, especialmente em regiões onde a abrangência da vacinação possibilitou a retoma de muitas atividades novamente, pelo menos temporariamente.

No que toca a mudanças no comportamento provocada pelas medidas de reação à pandemia, a McKinsey & Company considera que “embora a maioria dessas tendências não seja completamente nova, elas aceleraram durante a pandemia. Em conjunto, estão a moldar um novo ambiente operacional para as seguradoras que é extremamente disruptivo e que desafia as formas tradicionais de criação de valor”.

Essas tendências, resumidamente, incluem, entre outras coisas uma dissociação dos ambientes macroeconómicos entre Ásia, Europa e América do Norte, seja por meio de tensões geopolíticas e comerciais elevadas ou por diferentes tendências de taxas de juros entre regiões.

Por exemplo, embora a situação permaneça altamente ambígua, os Estados Unidos podem estar a sair do ambiente de taxas “baixas de forma duradoira” devido a um aumento perceptível, embora talvez transitório, da inflação. Em áreas onde as taxas baixas continuam a prevalecer, isso pode pressionar ainda mais as seguradoras do ramo vida a reformular os seus modelos de negócios.

A McKinsey alerta ainda para a emergente dicotomia entre “vencedores” e “perdedores”, reforçada pela crise. O impacto económico da pandemia variou consideravelmente de acordo com a geografia (por exemplo, Ásia, Europa e América do Norte estão a recuperar a velocidades diferentes); e também de acordo com o setor (por exemplo, viagens e hotelaria sofreram uma profunda recessão, enquanto as empresas de comércio eletrónico dispararam); e dentro de cada setor está a resultar numa intensa atividade de M&A (fusões e aquisições), defende a consultora.

“Para afastar os riscos, as seguradoras precisarão fazer investimentos adicionais em TI para digitalizar e automatizar seus processos; se a tendência persistir, podem até precisar de
modificar significativamente seus modelos de distribuição reposicionando os papéis de agências, corretores e canais de vendas digitais”, refere ainda o relatório.

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