Muitos analistas preveem que a inflação irá acelerar nos próximos anos. Na sua opinião, a alta de preços irá concentrar-se, no curto prazo, em bens e serviços que se tenham tornado mais escassos devido à pandemia e confinamento. Depois, será a resposta dos bancos centrais e dos governos à crise a justificar a subida da inflação. A implementação de estímulos monetários causará a subida de preços na generalidade dos mercados, ativos, bens e serviços.

A atuação dos governos pela via da política fiscal terá o mesmo efeito e, por obrigar à emissão de dívida, os emitentes teriam a ganhar com um cenário inflacionista. Por outro lado, refere-se como provável a existência de fenómenos de reorganização económica e política. Prevê-se um passo atrás na globalização e a criação de cadeias logísticas alternativas, menos otimizadas, resultando também em menos possibilidades de arbitragem a nível regulatório, fiscal, ambiental e do fator trabalho.

É difícil aceitar estas previsões de subida da inflação nos próximos anos. Desde logo porque também as crises de 2008 e da “dívida da zona euro” tiveram respostas monetárias e não provocaram inflação. Isto para não falar do caso japonês, que há décadas pratica políticas não convencionais, sem impacto nos preços. Esta é uma crise de procura, com desemprego e muitas empresas e famílias em dificuldades. Os preços da energia caíram a pique e a situação de excesso de capacidade instalada deverá perdurar durante anos.

Finalmente, os Estados não têm capacidade infinita de endividamento e à atual resposta musculada deverá seguir-se um período de contenção de despesa e aumento da carga fiscal, deprimindo ainda mais a procura agregada.