A convenção nacional do Bloco de Esquerda reuniu recentemente e nela desfilaram os protagonistas que querem concorrer a uma solução política maior, como seja, o de desesperadamente serem parte do governo.

Desde a geringonça que essa ambição do Bloco existe, reforçada nesta legislatura. Partindo do apoio inicial ao governo socialista minoritário em nome da esquerda, para posteriormente condicionar a sua viabilidade e finalmente subir a parada, deixando o PCP com o PS a aprovar o Orçamento do Estado de 2021.

A ambição crescente já tem rosto, quando Francisco Louçã subiu ao palanque na mesma convenção para nomear Mariana Mortágua futura ministra das Finanças, num claro afrontamento à política de Mário Centeno e ao Governo que tanto protegeram na legislatura anterior.

O Bloco sempre se assumiu sem papas na língua avisando ao que vem. Ao fim de duas décadas deixa de ser um partido antissistema para assumir a vontade de integrar um executivo, deixa de ser instrumental e secundário para passar a ser protagonista nas políticas por si reclamadas.

Percorrendo a prática política do primeiro-ministro António Costa na ação governativa, tal não colherá respaldo significativo, pois implicaria incluir também um PCP pouco interessado em ficar isolado, enquanto os outros tudo fariam para ganhar a batalha da esquerda no país.

A arrogância política que sempre tem caracterizado o Bloco fica ainda mais vincada quando Louçã declara que a direita não voltará ao poder quanto mais forte for o Bloco. A demonização da direita está sempre presente nos discursos bloquistas, desde os tempos em que eram acusados de esquerda caviar da política portuguesa. Há muito de presunção e pretensa superioridade que esta esquerda nunca será capaz de provar. Tal como renegam a democracia de cada vez que os resultados não lhe são favoráveis, ou seja, quando a dita esquerda não vence as eleições.

A ambição linear é expectável. Faz parte de qualquer partido político querer chegar ao governo. Nessas ocasiões desaparece o paradigma da diferença ou assumem-se no governo como se fossem oposição transpondo para o conselho de ministros a marcha de protesto da rua. Quem não se lembra dos bloquistas que praticavam o capitalismo mais explorador, no turismo em Lisboa, ou do recente episódio envolvendo violência doméstica. Conveniente e imediatamente abafados.

Quem se esqueceu das políticas do grego Yanis Varoufakis, o radical ministro das Finanças que rapidamente perdeu a sua posição no governo do Syrisa, o correspondente grego do Bloco de Esquerda e que deste recebeu sempre profícuo e prolixo apoio. Governo esse que rapidamente entrou em implosão, proporcionando o regresso rápido do centro-direita ao poder.

A saída de Varoufakis deveria servir de exemplo para a esquerda radical. Que contraria a tese de Louçã, ou seja, a entrada do Bloco no Governo seria o passo mais rápido para a esquerda perder o poder. António Costa sabe isso. Razão pela qual não pretende que o Bloco alguma vez venha a fazer parte de um governo seu.