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A internacionalização da arquitetura portuguesa

Resta pois, hoje, aos arquitectos portugueses, o caminho da internacionalização. A sua actividade, quando praticada seriamente e com atenção às múltiplas e complexas exigências do projecto, tornou-se inviável quando apenas direccionada para o mercado nacional.
11 Janeiro 2018, 07h15

O Prémio Pessoa de 2017 foi atribuído pela terceira vez a um arquitecto. Tratando-se de um prémio concedido a qualquer português que, no ano em causa, tenha “sido protagonista de uma intervenção particularmente relevante e inovadora na vida artística, literária ou científica do país”, é de sublinhar que a escolha tenha recaído, mais uma vez, sobre uma das profissões cujo prestígio tem vindo a crescer na razão inversa dos honorários cobrados pela generalidade dos que a praticam.

Sublinhe-se, claro está, a palavra ‘generalidade’. Todos os arquitectos  premiados – Souto de Moura, Carrilho da Graça e Manuel Aires Mateus – têm trabalho na Europa e cobram honorários europeus nos projectos que levam a cabo fora de portas. Ainda bem que assim é porque todos temos a ganhar com isso! O mesmo acontece, aliás, com os mais notáveis arquitectos portugueses dos nossos dias: competem com os seus parceiros europeus em mercados mais exigentes, onde existe mais investimento, onde o seu trabalho é condignamente remunerado e a sua qualidade reconhecida.

Dois fenómenos contribuíram para a degradação das condições de exercício da profissão em Portugal. O primeiro foi a crise financeira internacional desencadeada em 2008 nos Estados Unidos, que atingiu Portugal poucos anos depois desmantelando a, até então, inflacionada indústria da construção civil nacional. Os resultados foram catastróficos para os arquitectos: alguns ateliers fecharam portas ou reduziram drasticamente a  actividade, muitos jovens tiveram de imigrar, outros mudaram de profissão. A maioria, todavia, ficou, vendo-se confrontada com condições de trabalho cada vez mais precárias.

O segundo foi o elevado número de arquitectos formados nos últimos 30 anos. Quando estudei arquitectura havia apenas dois cursos, um em Lisboa e outro no Porto, duas décadas depois eram já 30. Há três anos atrás, na Europa,  o nosso país perdia apenas para a Itália em número de arquitectos por cada mil habitantes e, com menos um milhão de habitantes que Portugal, a Suécia tinha por essa altura cerca de 6000 arquitectos no activo, enquanto Portugal registava 21000. Como seria de esperar, o mercado acabou por nos ditar as suas leis.

Aparentemente, estaríamos, pois,  perante uma situação paradoxal: uma actividade em que Portugal  goza de um elevado prestígio internacional – o país tem tantos arquitectos agraciados com o prémio Pritzker quanto países como a Espanha a França ou a Itália! – ter-se-ia tornado economicamente inviável dentro das suas fronteiras. A verdade, porém, é que, muito provavelmente,  não existe nada de paradoxal nestas circunstâncias. Desequilíbrios desta natureza eram de esperar num país em que, na viragem do milénio, a construção chegou a representar cerca de 70% do investimento e o acesso à profissão não foi planeado,.

Resta pois, hoje, aos arquitectos portugueses, o caminho da internacionalização. A sua actividade, quando praticada seriamente e com atenção às múltiplas e complexas exigências do projecto, tornou-se inviável quando apenas direccionada para o mercado nacional. É para essa internacionalização que apontam os prémios concedidos a uma profissão que, em solo nacional, já teve os seus tempos áureos.

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