Portugal é um país com um grau relativamente elevado de abertura ao exterior, o qual tem vindo a aumentar de forma sustentada desde 1995, ano a partir do qual dispomos desta informação. Neste ano, este indicador que representava cerca de 62% da riqueza produzida internamente, passa hoje a representar cerca de 88% da riqueza que criamos internamente no país.

Para esclarecer melhor este indicador, diga-se que o grau de abertura ao exterior de um país é representado pelo peso que as trocas com o exterior de produtos e serviços (exportações e importações) representam na produção da riqueza nacional. Ainda assim, segundo dados recolhidos do Banco de Portugal que analisava em 2015 a posição relativa do país quanto ao grau de abertura ao exterior, verificávamos que Portugal ocupava a 20ª posição entre os países da OCDE e abaixo da media destes 35 países.

Ao nível das exportações, indicador importante para as empresas e também para o equilíbrio das contas nacionais, observamos que houve uma evolução muito positiva desde 1995, data em que estas representavam 27% do PIB, para os atuais 44% do PIB em 2018, o que representa um esforço muito relevante e algum sucesso das empresas na conquista dos mercados externos.

Analisando a composição do tecido empresarial português, verificamos que 99,9% das empresas são Pequenas e Médias Empresas (PME) destacando-se que 96,1% são microempresas, 3,3% são pequenas empresas e 0,5% são médias empresas. Temos portanto as grandes empresas a representar apenas 0,1% do total das empresas existentes no país.

Segundo a classificação do Instituto Nacional de Estatística (INE), as microempresas empregam menos de 10 pessoas e o seu volume de negócios e/ou balanço, não ultrapassa os 2 milhões de euros. As pequenas empresas empregam entre 10 a 49 pessoas e o seu volume de negócios e/ou balanço, variam entre os 2 e os 10 milhões de euros. As médias empresas empregam entre 50 a 249 pessoas e apresentam um volume de negócios entre os 10 e 50 milhões de euros ou um balanço entre os 10 e 43 milhões de euros.

Pese embora esta caracterização do tecido empresarial nacional, Portugal é um mercado reduzido e limitado para as aspirações (ou o que deviam ser as aspirações) das empresas nacionais.

Além disso, tem revelado um fraco potencial de crescimento para as nossas empresas, não apenas pela crise que assolou o país no final da década passada e primeira metade desta década mas também pelo risco que comporta para as empresas estarem apenas viradas para um mercado interno geograficamente pequeno e com apenas dez milhões de habitantes (potenciais consumidores), cujo salário médio é dos mais baixos da Europa e consequentemente o poder de compra reduzido.

No que diz respeito às exportações, o país registou uma evolução assinalável nos últimos 25 anos, estando hoje ao nível de um país que sempre serviu de referência no contexto europeu, a Irlanda, onde as exportações têm igual peso no PIB, os mesmos 44% de Portugal.

Mas este sucesso deve-se quase em exclusivo aos empresários que fizeram um grande esforço nos últimos anos para alterar um modelo de atividade económica antiquado e obsoleto, virado para um mercado interno que durante muitos anos foi menos exigente nos critérios de qualidade e sofisticação. Foram os empresários que, com coragem e valentia, arriscaram, na maioria dos casos com reduzidos ou mesmo nenhuns apoios financeiros para além dos seus fundos próprios, e iniciaram uma “época empresarial expansionista” com determinação e arrojo, focando a sua atividade em novos mercados, geografias e clientes.

Se observarmos os principais mercados das exportações nacionais em 2018 verificamos que os seis principais países de destino são Espanha (17%), França (8%), Alemanha (7,5%), Reino Unido (4%), EUA (3%) e Itália (3%), os quais representam cerca de 42,5% do total das exportações nacionais de bens e serviços. Ora tendo em atenção estes destinos verificamos que, à exceção da Rússia que não está aqui presente, estes são os países mais afetados e que mais vítimas registam relacionadas com a pandemia mundial que assolou a humanidade. Tal significa que estes países foram os mais afetados pela maior crise sanitária de que há memória e os que estão a sofrer um impacto económico mais negativo e profundo neste primeiro trimestre do ano, superior até à quebra verificada na crise financeira, económica e soberana de 2008.

Naturalmente que podemos com alguma legitimidade suspeitar que será mais difícil a estes países saírem da crise económica onde já entraram ou que o período de recuperação poderá ser alargado de tal forma que atrase de igual forma a recuperação do comércio internacional.

As dificuldades impostas por este cenário macroeconómico negativo, nestes países em particular e na Europa em geral, colocam também problemas acrescidos às empresas exportadoras nacionais. Se uma das saídas para a sua recuperação poderia passar pelo aumento das exportações para os mercados externos, tal só será possível com a recuperação económica dos países europeus, em especial dos principais países destino das exportações nacionais.

Só com o regresso a uma certa normalidade europeia será possível uma retoma do comércio externo português. É aqui que o papel da solidariedade europeia merece destaque e que se percebe a relevância de uma resposta europeia rápida e concertada à crise económica que trespassa os países membros. Destaca-se também aqui a importância do Programa de Compras do Sector Público (PCSP) do Banco Central Europeu (BCE) e do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), instrumentos de excelência dessa solidariedade europeia.

Entretanto o que podem os empresários fazer? Algumas etapas podem já ser acauteladas. Em primeiro lugar poderá fazer sentido as empresas estabelecerem contactos com os seus principais clientes nos mercados externos e procurar perceber como está a decorrer a sua atividade económica, se estão a operar em regime de normalidade ou com restrições, qual a sua capacidade de reestabelecer negócios, qual a sua capacidade de pagamento, como se encontram os canais e a logística de importação ou se existem bloqueios à entrada de produtos que possam afetar os fornecimentos. Estes procedimentos podem permitir às empresas planear a curto prazo a sua estratégia de vendas ao exterior.

Outras iniciativas podem passar pelas empresas avaliarem as linhas de financiamento bancário que dispõem junto dos seus parceiros bancários e que não estão no momento a ser utilizadas, e, se não forem estas as suas características, negociarem a sua reafetação para linhas de apoio à exportação, a utilizar logo que o mercado externo revele a necessária abertura.

Adicionalmente, convém avaliar se algumas destas linhas de crédito corrente podem ir sendo gradualmente amortizadas de acordo com a capacidade do ciclo de exploração das empresas e os valores libertos passarem gradualmente a ser afetados a linhas com características de exportação.

Importa pois que as empresas estejam preparadas para reiniciar as suas atividades externas, ainda que não esteja ao seu alcance imediato a possibilidade de o fazer. Tudo dependerá, mais uma vez, do tempo, da forma em como os centros de decisão europeus lidarem com esta crise económica e forem capazes de demonstrar a robustez da União, e da capacidade de recuperação económica dos países destino.