Os mais recentes dados da economia norte-americana começam a apontar para uma forte desaceleração.

Após uma subida de 120% nos preços das casas durante a última década, a diminuição dos preços em 5% nos últimos meses mostra que o mercado da habitação já se encontra em fase de correcção, seja pela perda de poder de compra, seja pelo aumento do custo de financiamento.

Também os mais recentes dados da inflação ou dos preços ao produtor, neste último caso negativos, indicam que nos próximos meses a evolução dos preços vai abrandar ou mesmo diminuir, no que pode ser interpretado como uma exaustão no poder de compra dos consumidores após o incremento de cerca de 5% na taxa de juro.

A produção industrial também já está em fase de contracção, quer pela procura interna, quer pelo abrandamento da economia mundial, mesmo com a abertura da China após dois anos de confinamento.

Por último, o mercado de emprego, o maior suporte da Reserva Federal dos EUA (Fed) para subir os juros, está finalmente a dar sinais de fraqueza, com os pedidos de desemprego a subir e o número de postos de trabalho por preencher a diminuir.

Em suma, todas as áreas-chave da economia estão agora em contracção, com a crise bancária a colocar uma pressão adicional ao nível da diminuição da concessão de crédito. Após meses a resistir, parece que a economia está a ceder em todos os seus pilares.

Esta situação é perigosa, uma vez que os ajustamentos são agora mais rápidos e, conforme vimos pelo exemplo do Silicon Valley Bank, as autoridades monetárias são testadas na sua credibilidade. A interpretação da Fed acerca da necessidade de subida dos juros não está a ser acompanhada pelos analistas de mercado, que esperam uma contracção da economia nos próximos meses.

É habitual dizer-se que não se pode combater um banco central, pois ele tem mais dinheiro do que os restantes participantes do mercado, mas, neste caso, em que todos os pilares da economia cedem, a Fed terá, provavelmente, de assumir mais um erro, o de ter subido os juros em demasia.

Na Europa, na tentativa de recuperar a credibilidade após uma década de erro com os juros negativos, o Banco Central Europeu está, no fundo, a cometer o mesmo erro. A Euribor a 12 meses estabilizou nos 3,5%, ou seja, mais 4% do que em janeiro de 2022. Este movimento brutal de subida de juros no último ano irá ter agora reflexo na economia europeia, com grande parte dos contratos de crédito a serem actualizados.

O efeito será semelhante ao dos EUA, i.e., a inversão da evolução da economia, que pode levar alguns países da zona euro a sentir-se tentados por uma aproximação à China, numa dança perigosa, que irá testar, novamente, a coesão política dos Estados, à semelhança dos episódios em torno do gás.

Os portugueses, distraídos pela TAP e pelos anúncios em torno dos milhões do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência, e micro-apoios à habitação, ainda não perceberam o impacto que irão sentir nos próximos meses, na revisão dos seus créditos.

É urgente abordar, em família, o impacto do custo com a habitação nos próximos dois anos, e tomar medidas que previnam o pior para as famílias, não confiando apenas na benevolência do Estado. A situação é grave e tenderá a aumentar os conflitos e a tensão social, mas somente após umas férias de Verão!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.