A conclusão da legislatura conduz, naturalmente, a um momento de reflexão sobre os quatro anos do ciclo político, liderado por António Costa, prestes a terminar. Consideremos três planos de análise: Educação, Saúde e Habitação.

No caso da Educação, Costa desconsiderou os professores do ensino básico e secundário ao não lhes contar o tempo de serviço na totalidade. Talvez Costa não tenha percebido que a Educação é um sector crítico para o país, que precisa de profissionais preparados e motivados e que defender a escola pública é defender a qualidade e a exigência.

A contagem do tempo de serviço e subsequente pagamento poderia ter sido diferido no tempo. Mas Costa não quis. No futuro, quem quererá ser professor do ensino básico ou secundário? Haverá interessados em ingressar numa classe com progressões congeladas, tempo de serviço parcialmente “apagado” e com a impossibilidade prática de chegar ao topo da carreira?

Mas Costa não percebeu a questão. Só a qualificação permitirá ao país acompanhar os desafios económicos e tecnológicos. E não se qualificam os portugueses sem uma escola de qualidade. E não há escola sem professores.

Costa prefere medidas avulsas como a dos aumentos salariais dos magistrados e assim abrirá uma caixa de Pandora. Se é justo o aumento salarial dos magistrados, o mesmo se aplica às restantes carreiras especiais da Função Pública. Devia, pois, vigorar o princípio da indexação das carreiras profissionais e não os aumentos intempestivos duma ou doutra classe profissional.

Na Saúde, cujo verdadeiro Ministério é o das Finanças, o SNS está cada vez pior. Esperar anos por uma consulta de especialidade, faltar equipamento nos hospitais que já levaram a demissões nas direcções clínicas e ouvir o Bastonário da Ordem dos Médicos dizer que o SNS está um caos devia levar Costa a ponderar seriamente as suas políticas e prioridades. O país da Web Summit de Costa falha no mais essencial e que afecta a vida dos portugueses.

É estranho um país com uma assustadora crise demográfica não se preparar devidamente para inverter esta tendência. O que se passa nos Serviços de Obstetrícia da maior maternidade do país é inenarrável. Quem pode pagar tem todos os serviços disponíveis quase imediatamente.

Ou seja, o problema está apenas nos que não podem pagar o acesso aos cuidados de saúde e que são a maioria dos portugueses. Esperar anos por uma consulta não é digno. A reacção de Costa ao problema é surpreendente, ao culpar o anterior governo. Convém lembrar que Costa é primeiro-ministro há quase quatro anos…

Costa não gere para as pessoas, mas sim para os 0,4% de Excedente Orçamental e atingiu o seu objectivo. Estes 0,4% dão estatuto e palco europeu a Costa, promovem certamente Centeno, mas prejudicam a vida quotidiana dos portugueses. Não é digna a aventura de renovar um cartão de cidadão. Ficámos a saber que a culpa é dos portugueses irem todos para a fila ao mesmo tempo e antes dos serviços abrirem. Os Monty Python não fariam melhor.

Na Habitação, será que o Governo e os partidos que o suportam já pensaram que o custo das rendas está a tornar impossível a vida nas grandes cidades? Ou estarão os portugueses condenados a ir viver para os arredores dos arredores das zonas metropolitanas deixando o centro para os turistas? O que é que foi feito, na prática, durante quatro anos, para  contrariar esta situação?

Os truques de Costa podem enganar os mais distraídos, tal como a magia distrai e diverte o público. Mas os mesmos truques (excedente orçamental, cativações, aumento da dívida pública, dívida dos hospitais, serviços públicos decapitados e incapazes de dar resposta) repetidos vezes sem conta, um dia mostrarão o vazio das políticas e aquilo que são verdadeiramente: truques.

Em três planos importantes, Educação, Saúde e Habitação, Costa falhou e está a tornar Portugal numa Disneylândia inacessível aos portugueses. O país está a tornar-se perigosamente um parque de atracções. O problema é que os portugueses não têm dinheiro para o bilhete. O pior é que ainda vamos ter mais quatro anos do mesmo. Infelizmente.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.