Na resolução do paradigma da transição energética, em Portugal e também no mundo, a mobilidade elétrica desempenha um papel fundamental. Hoje em dia, os veículos 100% elétricos, híbridos ou plug-in já fazem parte do nosso quotidiano e estão presentes nas escolhas que fazemos quando escolhemos um automóvel. Uma excelente oportunidade, mas também um desafio.

Apesar da desaceleração mundial na venda de automóveis em 2020, os veículos elétricos tiveram as suas vendas incrementadas em 40% segundo dados da Agência Internacional de Energia. Já no primeiro trimestre de 2021, as vendas globais “dispararam” 140% em comparação com o período homologo de 2020 segundo a mesma agência, sendo o conceito abraçado de forma unânime por todos os principais fabricantes. No mundo inteiro, os governos e reguladores adaptaram-se a esta necessidade, existindo relatórios que apontam para 15 mil milhões de dólares de financiamento direto e indireto só em 2020 por parte dos diversos governos.

Esta revolução, apoiada por uma inequívoca transição digital e tecnológica, terá de ir muito mais além do que uma simples troca de motores de combustão por baterias elétricas nos veículos ligeiros. Implica a redefinição do paradigma da mobilidade. Envolve ligações entre todos, produtores e consumidores, inclui produção distribuída e padrões não convencionais de consumo. Significa desenvolver soluções sustentáveis elétricas para transportes coletivos de longa distância, ligações entre a nossa habitação e os nossos automóveis que, no limite, poderão constituir-se em plataformas de armazenamento de energia que utilizaremos também em outras necessidades diárias.

No modelo português os postos de carregamento são de acesso universal, estão ligados à rede publica que está sob a gestão de uma única entidade – a MOBI.e, os postos de carregamento são geridos por Operadores de Postos de Carregamento (OPC), e a eletricidade é fornecida por um subconjunto dos comercializadores de energia, os comercializadores de eletricidade de mobilidade elétrica (CEME). Esta rede publica relaciona-se com pontos específicos de acesso privados, sem acesso à rede publica, sob ownership dos donos dos locais de instalação. Recordo que Portugal já ultrapassou a quota de 10% de veículos eletrificados, o que torna toda esta operação muito mais exigente que nos primeiros anos de atividade.

A MOBI.e, mesmo com meios limitados, tem feito esforços para operacionalizar e desenvolver a rede. A comunicação com os operadores e clientes atingiu recentemente um ponto de maior maturidade, e a rede é hoje muito mais efetiva e robusta, fruto também do investimento feito pelos Operadores depois dos leilões recentes.

Quanto aos desafios, tem de se clarificar definitivamente como enquadrar os modelos concorrentes à rede MOBI.e, isto é, ou são assumidamente ilegais e por isso têm de se adaptar à regulamentação em vigor, ou são considerados legais, o que implicará importantes ajustes no desenvolvimento da MOBI.e, com os Operadores a redirecionarem os seus esforços e know-how para modelos alternativos de negócio.

Urge também dotar o operador de rede (E-Redes) de meios técnicos e humanos, de objetivos quantificáveis e remunerados, para que consiga dar resposta em tempo útil e com maior profundidade aos processos de ligação à Rede. Os processos de certificação devem ser standard e simplificados, sejam em Évora ou no Porto. A localização não pode ser um elemento distintivo e dependente das delegações regionais da DGEG.  O excesso de burocracia, e a lentidão processual são em 2021 o principal inimigo da evolução dos mercados e da economia, nomeadamente em áreas disruptivas como a energia.

O paradigma da mobilidade, e das diferentes fontes de energia a ela associadas, tem de se metamorfosear, temos de dotar todos os participantes de meios tecnológicos e regulatórios consistentes, de garantir o desenvolvimento das baterias e outras soluções de mobilidade alternativas como por exemplo o hidrogénio para veículos.

Esta mudança não pode ser encarada como uma competição de 100 metros, é acima de tudo uma maratona para que cheguemos todos à meta em 2050 nas condições de sustentabilidade ambicionada.