Os angolanos vão a votos hoje. É a primeira vez que as eleições decorrem sob a necessidade de mudança. Essa mudança tem a ver com a saída de cena de José Eduardo dos Santos.

Os principais partidos políticos e naturalmente o MPLA, sabem bem que foram agentes de potências hegemónicas do mundo bipolar que incentivou, em África, guerras quentes, enquanto na Europa se serviam frias.

Angola tem hoje maioritariamente uma população com menos de 18 anos. Isso significa que é a primeira vez que vão votar. Esses eleitores vão fazê-lo já sob os efeitos da paz, conscientes da crise causada pela diminuição do preço do petróleo. Este vale hoje um terço do que valia há três anos e impõe a diversificação da economia. Há também os efeitos das graves desigualdades sociais causadas por desmandos inaceitáveis.

Não existindo condições para o retorno à guerra, o povo angolano não tem alternativa senão enfrentar o futuro jogando na mudança que vai ser de políticas e não de partidos.

O MPLA percebeu esta realidade com a consciência que tem de que, tal como só os que fazem a guerra estão em condições de fazer a paz, também a mudança política no quadro atual só pode ser feita por eles, ou seja, por esses partidos, a começar pelo próprio MPLA.

Os analistas europeus, que restringem a democracia ao princípio um homem, um voto, não levam em consideração os “amortecedores” que resultam da realidade sociológica de cada país. Mas isso é outra história…

Ao contrário do que pensam esses analistas, todos os estudos de opinião sobre as eleições em Angola indicam que será o MPLA o partido vencedor, com menor dimensão relativamente às últimas. A própria UNITA entendeu-o e parte dos dirigentes dela criaram há escassos quatro anos um novo partido, CASA-CE. Os três partidos são dirigidos por personalidades que viveram e dirigiram a guerra entre eles, e sabem que o mundo em que isso ocorreu, e os resquícios dele, acabou. Iniciou-se um novo ciclo que se vai aprofundar.

Vaticino, por isso, que a incógnita sobre o resultado destas eleições respeita apenas, a saber, qual o segundo partido mais votado e quais as diferenças entre os três.

Esta é uma componente importante para se apurar a natureza do poder que resultará das eleições, mas a mudança das políticas seguidas até à data será sempre feita.

Neste mundo em mudança, Angola também vai mudar. Os responsáveis do passado terão o ónus de responder a essa mudança. As tarefas que se impõe que sejam realizadas não são fáceis. É imperativo que ocorram porque têm de ocorrer.

O povo português, povo fraterno de Angola, tem também de saber responder solidariamente ao povo angolano nesta fase de transição, sobretudo através dos partidos políticos. Que, nalguns casos não sabem como fazê-lo.