Só há grupos onde existem fraquezas individuais” – A. Lobo Antunes

Atualmente, o agrupar e o socializar conhecem uns contornos distintos à sua essência e premência. Uma realidade que é preciso debelar, mas sem jamais a dissipar nem, de vez, a aniquilar. Precisamos de viver e estar em grupo, de socializar – quando for possível – com aquela normalidade plausível, há um ano adiada pelas razões óbvias de saúde pública. Essa chama vigoriza – em nome da esperança – e por nós clama!

Pois a necessidade do ser grupal, mais do que individual, é tão biológica quanto vital! Assim viemos ao mundo! Ora os próprios estádios psicossociais no crescimento do ser vivo são – para o excelente pedagogo Jacinto Jardim – os mesmos caracterizados na vida do grupo, nessas cinco fases comuns: 1.ª, infância; 2.ª, adolescência; 3.ª, juventude; 4.ª, adultez; e 5.ª, velhice. Não se percam, nunca, as dinâmicas de grupo, para obtenção de grupos mais dinâmicos.

Na questão da socialização segundo Musgrave, todos os membros dum grupo, efetivos ou candidatos, devem ter um certo comportamento. Há uma educação que é dada, mesmo que inconsciente, de valor ético e estético, de zelar pelos bons costumes e pelo patriotismo. E, por vezes, é isso que condiciona a entrada num grupo.

Em sentido forte, socializar é transformar um indivíduo de um ser associal num ser social inculcando-lhe modos de pensar, de sentir, de agir. Uma das consequências da socialização é tornar estáveis as disposições do comportamento assim adquiridas. Esta interiorização das normas e valores tem, igualmente, por função tornar suas as regras sociais – que são por definição exteriores ao indivíduo – e aumentar a solidariedade entre os membros do grupo.

Enquanto instrumento da regulação social, permite a economia de sanções externas. O grupo não tem carência, neste sentido, nem de lembrar indefinidamente ao sujeito a existência dessas regras, nem de exercer sobre ele uma coação para que elas sejam observadas: violá-las gera um sentimento de culpabilidade.

Toda esta questão é, também, agregada ao plano espiritual: a pessoa em si não é só humana, cabendo-lhe igualmente o divino. Integrada na DSI, a sociabilidade – articulada com outros pilares (como a ética, a justiça e a moral) – é algo de essencial à pessoalidade, ajudando no desenvolvimento da personalidade, e é inerente aos mistérios da criação e da revelação. Aos prenúncios da Humanidade!

Há estudos sociológicos que mostram existir, nomeadamente, uma forte semelhança dos comportamentos políticos entre filhos e seus pais; que certos valores – como o do sentido da solidariedade coletiva – são mais privilegiados na classe operária do que o sucesso individual, que caracterizaria as classes médias.

Com efeito, a socialização supõe o primado da sociedade sobre o indivíduo, o exercício duma intimidação por parte de certa autoridade considerada como legítima e um objetivo definido ao nível social. Assenta, além disso, numa teoria rudimentar da aprendizagem como condicionamento. O indivíduo é pensado como um ser passivo, cujo comportamento se resume a uma reprodução de esquemas adquiridos.

A esta visão determinista, pode opor-se uma conceção mais flexível que toma em consideração a relativa autonomia do indivíduo, a capacidade deste para adaptar as disposições adquiridas às situações vividas e mesmo para modificar, quando necessário, as normas e valores interiorizados em função de certos problemas que é chamado a resolver. A socialização implica, no geral, a sociedade para sua própria saciedade. Sustenta, assim, o indivíduo no seu todo e na totalidade (integridade) de cada um/a, na metamorfose premente do coletivismo em detrimento do individualismo.

E um exemplo prático, infeliz mas recente – neste espírito grupal despretensioso sem preciosismo do clubismo –, foi ver a unidade solidária (de instituições rivais) em volta do tributo ao andebolista Alfredo Quintana, na sua morte precoce e inesperada! Coisa que já não acontece no futebol…