Durante muito tempo, a geopolítica operou sob a afirmação figurativa “Mantenha os amigos perto e os inimigos ainda mais perto”. Esta abordagem levou a uma maior globalização, progresso significativo a nível mundial e prosperidade, retratados por organizações multinacionais interligadas. No entanto, as tensões geopolíticas entre os EUA e a China, o ataque russo à Ucrânia, e um aumento da desconfiança entre o “Leste” e o “Oeste” mudou a narrativa para “Mantenha os seus amigos perto!”.

Atualmente, quando as empresas que operam internacionalmente registam níveis de procura que excedem os níveis pré-Covid, as companhias enfrentam estrangulamentos na cadeia de abastecimento global, impulsionados pela interferência política e governamental.

Dado ser cada vez menos provável que as sanções e os bloqueios comerciais se desvaneçam ou desapareçam de um dia para o outro, as empresas que operam internacionalmente são, até um certo nível, forçadas a reconfigurar as cadeias de abastecimento global e a adotar o “friend-shoring”. Esta abordagem refere-se à recomposição da cadeia de abastecimento global e fomenta parcerias com fornecedores de países com os quais se partilha tradicionalmente pontos de vista geopolíticos, valores e sistemas coerentes de conduzir negócios.

As cadeias de abastecimento dependeram, durante muito tempo, de parceiros dispersos a nível global e de fornecedores que eram especialistas e providenciavam uma vantagem competitiva independentemente (em certa medida) da localização geográfica. Hoje em dia, as empresas devem focar-se em reestabelecer e identificar novos fornecedores internacionais que encaixem na tendência do “friend-shoring” e ajudem a ultrapassar os constrangimentos geopolíticos que se fazem sentir.

Um dos mecanismos que as empresas que operam internacionalmente tendem a adotar para lidar com obstáculos relacionados com o abastecimento global é tirar partido do conhecimento e das ligações criadas através de redes de parcerias. No entanto, e uma vez que as composições das redes de parcerias também estão a mudar, seguindo as tendências da recomposição global, as empresas que operam internacionalmente estão a tentar aliar-se a novos grupos e associações de negócio, permitindo-lhes o acesso a novos fornecedores.

Esta abordagem poderá implicar a reunião com “velhos amigos” e a alocação de recursos a novas redes ou a redes já existentes, mas que se enfraqueceram com o passar do tempo. Assim, a capacidade de (re)construir laços fortes pode ser, uma vez mais, o mecanismo focal para lidar com os obstáculos; mas desta vez, esta abordagem pode comportar um grande risco, na medida em que poderá alterar o foco da empresa e reverter a sua presença internacional.