A especulação sobre o futuro do dólar tem vindo a transpor-se no debate sobre o futuro do sistema monetário internacional. Em volta de tamanha imprevisibilidade, aparecem várias sugestões que aguçam este debate, das quais a mais provável, apontam diferentes analistas, é a formação gradual de um sistema monetário multipolar.

Consideremos que a política monetária dos EUA repercute os seus efeitos pelo globo. No meio das conjeturas sobre o rumo do sistema, constatamos que, nos últimos 50 anos, o dólar viu a sua presença nas reservas de forex globais de bancos centrais diminuir cerca de 60%. Ainda assim, cada vez mais se revela improvável que um conjunto de divisas, ou quiçá uma divisa global, toldem o protagonismo do dólar. Mas como se traduz este contexto nos mercados comercial e cambial? Foquemo-nos na hipótese mais provável para esta reflexão.

O racional por detrás da multipolaridade do sistema monetário parte do princípio de que as trocas comerciais bilaterais entre países têm vindo a aumentar. Procuram mitigar os choques causados pelas mudanças na política monetária americana, enquanto buscam um certo equilíbrio no mercado cambial para as suas divisas. Por outras palavras, as intervenções da Reserva Federal dos EUA acabam por moldar, por inteiro, o curso da história do comércio internacional e dão palco ao fomento dos mercados de capitais locais em países emergentes. Paralelamente, coloca-se uma outra questão interessante, as divergências dos termos de troca.

Ora, supondo que os mercados fora dos EUA pretendem escapar às implicações da política monetária americana desta maneira bilateral, creio que há que pesar o custo de oportunidade desta equação. Um custo, um incómodo escondido que já se previa e sobre o qual se refletia nos anos 50 do século passado, a “Hipótese de Prebisch-Singer”.

A tese proposta por Raúl Prebisch e Hans Singer defende que, no ato de trocas comerciais entre países desenvolvidos e emergentes, se deterioram os termos de trocas destes últimos. Entenda-se que, ainda que seja criada mais riqueza no mundo, as economias baseadas em bens primários ficam presas numa fraca elasticidade de procura face a mercados desenvolvidos, na ótica de longo prazo. É ainda mais relevante se contrapusermos a esta ideia uma subida abrupta dos preços dos combustíveis fósseis, quando, na realidade, se comprova que tal aumento não mitiga a deterioração dos termos de troca nos mercados emergentes.

Neste sentido, sofrerão os mercados emergentes um maior ou menor custo de oportunidade por diminuir os fluxos comerciais com os EUA? Uma pergunta ainda melhor seria: qual é o derradeiro problema que atravessam que pode comprometer os mercados de capitais locais? A tese defendida nos anos 50 apresenta provas empíricas de cada vez mais se aproximar da realidade económica corrente dos países emergentes. É não só uma perspetiva a ter em conta dentro do debate do futuro do sistema monetário, como também uma poderosa tomada de consciência da outra face da moeda dos habituais fluxos comerciais que ditam o nosso quotidiano.

O artigo exposto resulta da parceria entre o Jornal Económico e o ITIC, o grupo de estudantes que integra o Departamento de Research do Iscte Trading & Investment Club.