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A receita do FMI para uma recuperação económica em força

O fundo reconhece o impacto desproporcional da pandemia, pedindo por isso apoios que minimizem o agravamento das desigualdades, ao mesmo tempo que sublinha a importância de processos eficientes e expeditos de insolvência de forma a não entupir o sistema financeiro com o aumento esperado das falências quando forem levantadas as moratórias de crédito.
26 Janeiro 2021, 18h15

O Fundo Monetário Internacional (FMI) advoga forte políticas monetárias, fiscais e orçamentais em cada economia direcionadas à recuperação da crise criada pela Covid-19, sobretudo aquelas que reforcem a segurança do sistema bancário, dotem os países de recursos na área da saúde e abordem inequalidades sistémicas. Estas conclusões são apontadas no documento de previsões económicas do fundo, divulgado esta terça-feira.

Apesar do forte impacto que a pandemia tem tido na atividade por todo o mundo, o FMI salienta nas suas previsões económicas que a crise pandémica pelo novo coronavírus tem registado menos insolvências de empresas do que as restantes recessões desde 1990, o que pode ser um efeito atribuível às moratórias de crédito e esquemas semelhantes de apoio à liquidez que foram colocados em ação.

O órgão argumenta que a resposta dos governos foi eficaz a evitar uma recessão ainda maior, mas tem também mantido vivas empresas sem viabilidade financeira no pós-pandemia. Assim, torna-se fundamental criar mecanismos de liquidação eficientes que permitam a resolução de insolvências de forma rápida e, preferencialmente, fora dos tribunais.

Por outro lado, a relevância do sector da saúde é tremenda e, como tal, devem ser alocados recursos para a compra de vacinas, sempre assegurada num paradigma de cooperação internacional, de forma a que cada país consiga atingir o mais rapidamente possível uma “normalização da atividade movida pela vacina”, como descreve a entidade.

Esta cooperação é ainda referida como um veículo de desenvolvimento num mundo pós-pandémico, recomenda o fundo, que exorta as economias mais desenvolvidas “com margem orçamental para tal” a fazerem um esforço sincronizado de gastos públicos estrategicamente orientados, em que, entende, as externalidades positivas entre países seriam significativamente ampliadas.

A transição para a normalização da atividade também é identificada como um passo chave na recuperação económica. Para o FMI, este processo terá de passar por, à medida que a transmissão na comunidade vai diminuindo, uma redução gradual dos apoios mobilizados, tanto em termos de duração, como de magnitude, como ainda de abrangência, aliado a estímulos mais alargados à retoma, como incentivos à contratação.

Parte desta evolução deverá ser suportada por e focada em áreas estratégicas, nomeadamente a educação, digitalização e transição energética, tal como o proposto esforço coordenado de gastos públicos. Parte da priorização da educação passa também por um combate às desigualdades, que o fundo reconhece terem-se agravado pelo impacto desproporcional da pandemia no mercado laboral, através da formação e requalificação de profissionais. Além disso, é sugerido o reforço de políticas sociais como o apoio ao desemprego.

Ainda assim, o fundo reconhece que, para economias emergentes, esta série de recomendações será difícil de levar a cabo sem uma reestruturação da dívida soberana destes países.

Ao contrário das economias mais avançadas, em que as expectativas bem definidas de inflação permitem políticas monetárias mais expansivas, muitos países em desenvolvimento debatem-se com níveis pré-Covid de dívida muito elevados e/ou uma inflação flutuante, o que acarreta riscos.

Assim, enquanto que alguns países conseguirão acomodar choques negativos através de alterações na taxa de câmbio, outros com mercados financeiros menos estáveis terão menos capacidade de recurso a este mecanismo. Torna-se, portanto, fulcral a cooperação da comunidade internacional nestes casos.

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