Já muito se disse e escreveu sobre a TAP de forma mais apaixonada ou crítica, numa visão mais económica ou política. Quanto a mim, começo por fazer uma declaração de interesse, dado o facto de ter estado ligado durante vários anos à TAP e ter familiares que ainda mantêm esse mesmo vínculo.

Falar da TAP é mencionar uma empresa que, para além das paixões e das análises económicas, financeiras e políticas que possam ser feitas, possui uma dimensão histórica dificilmente igualável e um passado gerador de riqueza para a economia e para o país, qualidades essas das quais decorre o interesse público desde sempre associado a esta companhia aérea.

Mais ainda, ao falarmos da TAP, não deve esquecer-se de que falamos de muito mais do que uma simples empresa mas, também, de milhares de trabalhadores e das suas famílias, das centenas de empresas nacionais que são suas fornecedoras e parceiras e de um contributo para a exportação que representa cerca de 2 % do PIB português. Tal é a dimensão da riqueza com que a TAP contribui para o nosso país.

Não me é possível, assim, alinhar com as teses algo levianas e de algum radicalismo de inspiração (neo)liberal, que tratam a TPA como se fosse apenas mais uma empresa entre outras, cujo futuro apenas ao mercado deve ser entregue.

Com efeito, a TAP é uma empresa com 75 anos (14 de março de 1945) que soube modernizar-se e se tornou detentora de um elevado conhecimento técnico e tecnológico e que – apesar de alguns erros de gestão já amplamente reconhecidos – conseguiu sobreviver num mercado concorrencial muito competitivo como é o caso da aviação civil. E alcançou esse feito sem nunca deixar de cumprir em segurança os seus objetivos, transportando pessoas e mercadorias para vários mercados e destinos, prestando especial atenção à diáspora portuguesa.

Diversas coisas não devem nem podem ser esquecidas. Por exemplo que a TAP, por força de acordos políticos e diplomáticos, teve de assumir rotas/destinos que à partida se sabiam deficitários, mas cujos compromissos foram assumidos como imperativos. Ou ainda que a transportadora esteve sempre na primeira linha dos problemas dos portugueses, como sucedeu no passado no caso da “ponte aérea” realizada para resgatar os portugueses que se encontravam nas antigas colónias ou, no presente e nesta terrível situação pandémica que agora vivemos, organizando voos para o regresso a casa de cidadãos nacionais ou para o transporte de material e equipamentos de prevenção e combate contra a Covid-19.

Tudo isto demonstra à evidência que o valor da TAP não pode ser medido apenas pelo resultado financeiro da sua operação. O seu goodwill (marca, clientes e recursos humanos, entre outros) deve considerar o valor dos destinos, a importância para as comunidades portuguesas, a qualidade técnica dos seus tripulantes, do pessoal altamente especializado e da sua manutenção e engenharia. Ao longo dos anos, ganhou vários galardões nacionais e internacionais, dos quais se destaca “Planeta Terra”, atribuído pela Unesco, e em 2011 foi classificada como a companhia aérea mais segura da Europa.

Finalmente, a sua dimensão cultural. A TAP batizou os seus aviões com os nomes de grandes figuras da História de Portugal, da cultura e das artes: Amália Rodrigues, Agustina Bessa-Luís, D. Dinis, D. Maria I, Marques de Pombal, Amélia Rey Colaço, Raul Solnado, Ary dos Santos, entre tantos outros.

Para o ministro da Economia e Finanças francês, Bruno Lemair, apoiar a Air France é uma questão de soberania. “Se não tivermos uma companhia área própria pode ser um problema para a nossa soberania”, afirmou o ministro. Razão que levou o governo francês a conceder um empréstimo à Air France de 7 mil milhões de euros.

Em Portugal, o Governo e o ministro da tutela, pelo contrário, não têm evidenciado uma visão semelhante e desconhece-se ainda qual a estratégia para a empresa, chegando ao nosso conhecimento apenas aquilo que os meios de comunicação e os analistas políticos e económicos opinam sobre a companhia aérea portuguesa e sobre o seu futuro.

A confirmar-se que o Governo pretende levar a reestruturação da TAP a ser decidida pela Assembleia da República, mitigando assim a sua responsabilidade, apelo aos deputados e aos partidos políticos com assento parlamentar para que façam a indispensável ponderação das questões económicas e financeiras  da TAP com a sua história, a importância para a economia, o impacto no emprego e famílias, o seu papel de companhia de bandeira nacional.

É imperativo defender a empresa, defender os trabalhadores, defender as famílias e a economia portuguesa. É certo que a aviação civil foi mundialmente um dos sectores severamente afetados pela atual crise pandémica, mas devemos também olhar para o futuro com esperança, à medida em que o processo de vacinação contra a Covid-19 vai sendo realizado. Sabemos agora que, ao longo do próximo ano  poderemos, em diferentes fases, ser vacinados  para proteção contra um vírus que, desde há mais de 12 meses, paralisa sectores económicos inteiros, encerra empresas lançando milhões no desemprego.

Senhor primeiro-ministro, a TAP não é uma empresa é a Empresa que merece, precisa e deve ser ajudada. Devemos ter orgulho naquilo que é nosso e que representa a nossa soberania.