De todas as teorias suscitadas pelos politólogos e analistas políticos nas últimas semanas, a mais grave é aquela que considera que António Costa apresentou um Orçamento do Estado tão mau que o PCP e o BE o iriam sempre rejeitar.

Não bastava o Orçamento ser nefasto para o país, como seria o rastilho intencional para mergulhar Portugal numa crise política e dar cabo da estabilidade da governação sustentada pelos partidos da geringonça.

Com ou sem trama de António Costa, a verdade é que a geringonça rebentou e, simultaneamente, o PCP e o BE foram encostados às cordas. É estranho que um Governo que se diz “orgulhoso da caminhada” que faz “desde 2016” não tenha procurado salvar a fórmula que o sustentou.

Costa já não tem ânimo para continuar em São Bento, nem para mais golpes e tramoias. Não obstante a dissolução do Parlamento, mantém-se como primeiro-ministro e, à boa maneira socialista, o Governo não se descuidou nos pormenores.

Num só dia, assinou 14 contratos de exploração e prospeção de vários minérios. Cobre, chumbo, lítio, zinco, tungsténio, estanho e volfrâmio despertaram a gula de um Governo à deriva.

Até 30 de janeiro, é provável que o Governo percorra toda a tabela periódica dos elementos químicos e realize um sem-número de concessões opacas, lesivas para as populações locais e para a comunidade em geral, até porque António Costa faltou à COP26, decidindo, assim, mandar às urtigas os estudos de impacto ambiental impostos por lei.

São estas contradições que nos fazem desconfiar da utilidade de um Governo que, há largos meses, fez shut down à realidade, um Executivo que revela a sua natureza inconsequente, que está a proteger os seus interesses e não cuida das pessoas, que governa para criar mais miséria e não para a combater.

É o que acontece com a escalada do preço dos combustíveis, com o Governo a fingir que resolve o problema da deterioração do poder de compra das empresas e famílias, dando um Autovoucher de cinco míseros euros mensais para automobilistas, ou descontos no Imposto Único de Circulação para os transportadores rodoviários de mercadorias por conta de outrem.

Como reiteradamente alertei no Parlamento, António Costa está a preparar-se para voar para um alto cargo europeu e, assim, se distanciar dos sarilhos domésticos de que é o primeiro responsável. Poderemos até livrar-nos de Costa, mas as tentações ideológicas de esquerda, pelo menos com Pedro Nuno Santos, continuarão por aí a criar raízes.

A ser verdadeira a teoria da trama de Costa como o “Feiticeiro” da crise, o primeiro-ministro deu-nos o principal motivo para ser demitido e para que o feitiço se vire contra o feiticeiro. Portugal não merece um inventor de crises irresponsáveis e de um Maquiavel lesa-pátria!