A guerra na Ucrânia parece estar agora numa nova fase, com a Rússia a tornar claro, pela voz de Vladimir Putin, que pretende levar a ofensiva até ao fim. Depois de ter fracassado a tentativa de tomar a capital em dois ou três dias, os russos preparam-se, aparentemente, para esmagar a resistência ucraniana com armamento pesado. Neste contexto, o anúncio de que serão criados “corredores humanitários” para que os civis possam abandonar Kiev adquire um duplo significado, sinalizando que a Rússia prepara-se para conquistar a cidade combatendo de edifício a edifício, se necessário.

Será por isso de esperar um agravamento do conflito, com mais baixas civis e um nível acrescido de destruição das infraestruturas da Ucrânia. Provavelmente assistiremos a cenas cada vez mais horríveis e a Europa terá de estar preparada para acolher milhões de refugiados, se a guerra se arrastar durante muitos meses.

A primeira baixa de qualquer guerra é a verdade, porque os beligerantes sabem que a informação e a contrainformação podem ser quase tão importantes como o combate físico propriamente dito. O mesmo acontece neste conflito, com os dois lados a fazerem propaganda de maneira a vencerem a guerra da comunicação, sendo que a Ucrânia parece estar a ganhar neste plano.

Um dos aspetos mais angustiantes, neste domínio, é o facto de sabermos que se trata de uma luta de David contra Golias, com civis armados à pressa (incluindo adolescentes) a enfrentarem um exército profissional, altamente treinado e bem equipado. Para qualquer pessoa com um mínimo de empatia, esta será uma situação em que não existem finais felizes: por um lado, ceder à invasão e deixar o país cair sob o jugo do ocupante implica abdicar da liberdade e passar o resto da vida como servo do Kremlin; por outro, a vitória militar é praticamente impossível e muitas vidas seriam poupadas se a Ucrânia se rendesse. Qualquer que seja a escolha dos ucranianos, haverá sempre um pesado preço a pagar. O preço de lutar pela liberdade ou de a perder.

Nestas ocasiões é comum citar Churchill, mas creio que neste caso se justifica. Quando em 1940 a Inglaterra ficou sozinha na luta contra o III Reich e muitos defendiam a rendição, Churchill, quiçá semilouco mas ao mesmo tempo com a cabeça no sítio certo, recusou render-se. “As nações que caem lutando conseguem levantar-se novamente, mas as que se rendem sem dar luta estão acabadas”, disse.

A Ucrânia, mesmo que perca esta guerra, conseguirá reerguer-se e tudo indica que o sacrifício dos jovens ucranianos não será em vão.