A União Europeia em Kiev: Uma cimeira sob ameaça de ataque aéreo

Apesar de todos os sinais exteriores de violência, a cimeira não terá ido muito além no tema principal em discussão: não há rigidez na entrada da Ucrânia na União, mas também não parece haver grande pressa.

Bucha, Ucrânia

Para os analistas, é uma questão de vasos comunicantes: a prometida entrada da Ucrânia na União Europeia pode ser entendida por Kiev como um caminho de acesso privilegiado à NATO e essa (talvez p presidente Zelensky já o tenha compreendido) é uma linha vermelha que a aliança atlântica nunca pisará enquanto a invasão russa não chegar a um termo.

Na cimeira de alto nível da União Europeia em Kiev, que decorria ao som das sirenes de aviso de ataque aéreo, a líder da União, a alemã Ursula von der Leyen, disse que “’não há cronogramas rígidos” para adesão da Ucrânia, nem em termos de prazos nem de metas que o país sitiado tenha de alcançar. O que também não há é uma definição da altura em que essa entrada possa vir a acontecer.

Von der Leyen falava em conferência de imprensa ao lado do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, durante a qual também disse que o próximo pacote de sanções da União contra a Rússia visaria componentes usados em drones russos. Uma estratégia que muitos países, alguns deles do bloco dos 27, consideram pura perda de tempo, com o ‘efeito bumerangue’ a ser mais penoso para o ocidente que para os invasores.

Um dos últimos responsáveis europeus a colocar-se sem dúvidas contra as sanções foi o presidente da Croácia, Zoran Milanovic, que esta semana repetiu que os pacotes de restrições não surtiram qualquer efeito profundo na economia russa.

Mas o auxílio da União não se fica por aqui: na mesma semana em que Zelensky pediu a criação de uma força internacional de aviões de guerra para lutarem nos céus da Ucrânia, a comissária europeia levou na mala para a cimeira 35 milhões de lâmpadas LED energeticamente eficientes.

“Juntos, estamos a trazer luz para a Ucrânia”, disse von der Leyen num post no Twitter, acrescentando que “cada kW de energia economizado é precioso para combater a guerra energética da Rússia”. Quando aos aviões – que por exemplo a Polónia desespera em poder enviar para a Ucrânia – não faziam parte da bagagem.

Num país onde a eficiência energética é com certeza o último dos problemas, dado que a maior parte do tempo não há energia que os ucranianos possam usar com a parcimónia induzida pelas alterações climáticas, o seu presidente pediu aos aliados que forneçam armas de longo alcance para ajudarem a repelir as forças russas da região de Bakhmut. “Ninguém vai entregar Bakhmut. Vamos lutar enquanto pudermos. Consideramos Bakhmut a nossa fortaleza”, disse durante a referida conferência de imprensa. “A Ucrânia seria capaz de manter Bakhmut e libertar o Donbass ocupado se recebesse armas de longo alcance”, insistiu.

Igualmente importante para o desenrolar da guerra, a Dinamarca anunciou que apoiar uma decisão segundo a qual “a Rússia deve ser banida de todos os desportos internacionais”, opondo-se assim à participação de atletas russos nas Olimpíadas de Paris no próximo ano. Pior ainda: mesmo que sob uma bandeira neutra. “É a posição oficial da Dinamarca: não devemos vacilar em relação à Rússia”, disse o ministro da Cultura dinamarquês, Jakob Engel-Schmidt, em resposta à decisão que o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou na semana passada de que os atletas da Rússia podem classificar-se para os Jogos Olímpicos de Paris em 2024 mas sem usarem a bandeira russa, e com certeza o hino (centenas de vezes ouvido antes, dado que é o mesmo da antiga União Soviética).

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