A regeneração urbana está na agenda do dia dos governos das cidades, principalmente, porque as suas práticas representam um legado para as gerações futuras. Se interrogarmos os valores subjacentes que regem as decisões são sobretudo valores económicos e competitivos, ou seja, a cidade só tem valor quando assente em valores fundiários e imobiliários.

Os governos tendem a valorizar os grandes movimentos urbanos mono funções (comercial, cultural, habitação), esquecendo, como afirma Isabel Guerra, a escala temporal e geográfica da vida quotidiana.

Sucede, porém, que o reconhecimento dos valores da cidade quotidiana, pode criar plataformas que reproduzem fielmente a comunidade de relação, funcionalmente equipada para equacionar a territorialização das políticas urbanas que fomentem abordagens integradas de base local, assegurando a sua aplicação através de uma adequação às especificidades dos lugares.

Para Margaret Crawford, o movimento quotidiano das pessoas no espaço urbano é essencial para a produção de novas leituras e narrativas que qualifiquem e deem significado à cidade. Aqui, encontra-se a possibilidade de acesso a um vasto repositório de significações urbanas e é, precisamente, aí que reside a valor do seu reconhecimento.

Alertar e envolver os setores público, privado, comunitário e voluntário para este precioso valor é indispensável para alcançar mudanças reais e duradouras nas nossas cidades, só, assim, fazemos o melhor uso de todos os recursos de que dispomos – humanos e financeiros.

No espaço europeu são vários os exemplos de boas práticas de regeneração urbana que lidam com a intervenção ativa, social e local. Numa altura em que a consciência ambiental adquire uma relevância crescente, o projeto Passage 56 – Espaço Cultural Ecológico, em Paris, parte de uma parceria entre a administração local, as organizações locais, os profissionais e os residentes para a criação de um espaço de agricultura urbana gerido coletivamente.

Pensando Fadura, em Guecho, no País Basco, foi a oportunidade para transformar um vazio urbano num parque, envolver a opinião pública em questões como segurança, acessibilidade, compatibilidade de usos, como catalisador de sustentabilidade social, económica e desenvolvimento cultural. Eichbaumoper, situada em Mulheim, na Alemanha, caracteriza a transformação temporária da estação de metro, numa região industrial com desafios urbanos e sociais complexos, por um coletivo de arquitetos, numa nova dinâmica de atividades culturais em espaço público – uma casa de ópera.

Naturalmente, estas práticas de regeneração urbana podem ser vistas como ferramentas de incubação temporária de desenvolvimento sustentável, e a sua aplicação pode ser expressa em projetos de longo prazo, direcionados para o bem comum do cidadão e da cidade, e com influência direta nas dinâmicas locais de intervenção.

Fomentar a regeneração urbana na perspetiva de conhecer e valorizar cada vez mais as condições e capacidades endógenas do suporte físico, condições ambientais e paisagísticas são o caminho na promoção de um desenvolvimento funcional, social e económico das áreas urbanas desfavoráveis.

Vamos fazer este caminho, na reconstrução do edificado, na requalificação de zonas industriais abandonadas, na qualificação do espaço público, na dinamização do mercado  de arrendamento, privilegiando a qualificação do parque habitacional já existente através de soluções de compromisso estratégico e operacional entre os diversos agentes territoriais (públicos, privados e associativos).

Tais práticas ajudam os governos das cidades a perceber os efeitos das componentes políticas, económicas e sociais do projeto no espaço da cidade.