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Acordo em Lisboa atribui ao CDS freguesias de vitória incerta ou impossível

Divisão dos cabeças de lista para as 24 juntas de freguesia lisboetas na candidatura de Carlos Moedas pode duplicar presidências do PSD. Quase certa é a conquista das Avenidas Novas, onde em 2017 a centrista Raquel Abecasis ficou à beira de vencer o PS e muito à frente do PSD.
  • Cristina Bernardo
29 Março 2021, 08h10

O acordo de coligação por Lisboa entre o PSD e o CDS-PP, concluído na sexta-feira, atribui os cabeças de lista da assembleia municipal e de nove juntas de freguesia aos centristas, mas as suas hipóteses de vitória oscilam entre o muito incerto e o virtualmente impossível, enquanto os social-democratas não só asseguram a manutenção das quatro freguesias que já governam como ficam com boas hipóteses de conquistar outras tantas ao PS, que atualmente detém 19 das 24 existentes na capital, com a CDU a liderar em Carnide.

Tal como sucedeu na Câmara de Lisboa, onde o PSD indicou o ex-comissário europeu Carlos Moedas para encabeçar a lista conjunta – que incluirá outros partidos, como o PPM e MPT, que há quatro anos se coligaram com o CDS-PP – apesar de a sua candidata Teresa Leal Coelho ter obtido pouco mais de metade (11,22%) dos votos da então líder centrista Assunção Cristas (20,59%), também na freguesia das Avenidas Novas, atualmente detida pelo PS, haverá um cabeça de lista social-democrata, muito embora em 2017 a ex-jornalista Raquel Abecasis tenha ficado à beira da vitória pelos centristas (27,36%, contra 29,27% do PS), e cinco pontos percentuais acima de Pedro Proença (22,31%), que avançou pelo PSD.

Somando as votações do centro-direita lisboeta em 2017, quando muitos eleitores do PSD terão votado útil em Assunção Cristas para tentar derrotar o autarca socialista Fernando Medina, sendo mais fiéis ao partido para a assembleia municipal e para as juntas de freguesia, Avenidas Novas será a junta de freguesia mais fácil de conquistar pela coligação liderada por Carlos Moedas, seguindo-se Alvalade.

Tradicionalmente de direita, Alvalade foi conquistada pelo PS por André Moz Caldas, que entretanto abandonou o poder local e é secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros. Há quatro anos o PSD voltou a vencer, com 36,21%, seguindo-se o PSD, com 20,57%, e o CDS-PP, com 18,38%, sendo a lista centrista liderada pelo atual presidente da Juventude Popular, Francisco Camacho. Matematicamente é muito possível que a junta de freguesia regresse à direita, que durante muitos anos dominou as três juntas que lhe deram origem (Alvalade, Campo Grande e São João de Brito).

Pelo contrário, entre as nove juntas de freguesia de Lisboa atribuídas ao CDS-PP no acordo de coligação que visa eleger Carlos Moedas para a presidência, apenas duas são à partida competitivas. Em Campo de Ourique, presidida pelo filho do primeiro-ministro António Costa, Pedro Tadeu Costa, desde que o também socialista Pedro Cegonho assumiu o mandato de deputado, a soma do centro-direita em 2017 (19,44% para o PSD e 17% para o CDS-PP) não ficou longe do PS (38,54%). E o mesmo se aplica ao Parque das Nações, onde há quatro anos o PS obteve 38,35%, o CDS-PP 23,07% e o PSD 12,97%, prevalecendo neste caso o critério da maior votação dos centristas aquando das negociações para as listas de 2021.

Nas restantes sete juntas de freguesia só um verdadeiro deslizamento de terras eleitoral permitiria aos candidatos centristas triunfar sobre os incumbentes socialistas, com a soma dos votos do centro-direita a ficar abaixo dos 30% – Arroios (27,21%), Misericórdia (27,16%), Benfica (26,25%), Campolide (23,87%), Penha França (23,32%) e Alcântara (22,39%) – ou menos abaixo dos 20%, no caso da Ajuda (18,37%).

O PSD encabeçará as listas conjuntas em muitos “buracos negros” do centro-direita lisboeta, como Marvila (15,16%), São Vicente (19,03%), Santa Maria Maior (19,51%), Beato (20,04%), Olivais (20,43%), Santa Clara (22,56%) e Carnide (22,57%). No entanto, além de ter a conquista das juntas de Alvalade e das Avenidas Novas muito bem encaminhada, também terá hipóteses em São Domingos de Benfica – onde o PS venceu com 39,23% em 2017, com o PSD a obter 21,57% e o CDS-PP 15,69% – e no Lumiar. Nesta junta de freguesia, agora presidida pelo deputado socialista Pedro Delgado Alves, o PS teve 40,38%, enquanto o PSD teve 19,01% e o CDS-PP 18,78%.

Entre o centro-direita existe a expectativa de que Carlos Moedas consiga mobilizar abstencionistas e conquistar votos de lisboetas que não se reviram nas candidaturas de Assunção Cristas e de Teresa Leal Coelho, mas também enfrentará concorrência dos partidos recém-chegados à Assembleia da República. O Chega escolheu o antigo apresentador de programas de televisão Nuno Graciano, enquanto a Iniciativa Liberal avançou com o consultor Bruno Horta Soares depois de o gestor Miguel Quintas ter desistido da candidatura à Câmara de Lisboa. E a presença destas candidaturas poderá contribuir para baralhar as contas também nas juntas de freguesia e aumentar as hipóteses dos mais ameaçados de entre os 19 presidentes de junta do PS.

Número dois da Câmara e cabeça de lista da Assembleia para os centristas

No que toca à lista para a Câmara Municipal, invertem-se as atuais posições relativas do CDS-PP e PSD, pois os centristas têm direito a dois dos seis primeiros lugares – quando em 2017 foram eleitos quatro vereadores do CDS-PP e apenas dois do PSD -, embora a desvantagem possa ser diminuída se Carlos Moedas melhorar de forma significativa a soma dos resultados dos dois partidos.

Ficou estabelecido na sexta-feira que depois do ex-comissário europeu virá um elemento do CDS-PP, seguindo-se uma figura independente indicada pelo PSD, outro vereador do PSD, outro do CDS-PP e outro do PSD. O sétimo lugar na lista pertence a um independente indicado pelo CDS-PP, o oitavo a um independente indicado pelo PSD e o nono novamente ao CDS-PP, pelo que os centristas necessitará de que a lista do centro-direita alcance maioria absoluta no executivo camarário para manterem o mesmo número de vereadores eleitos por Assunção Cristas.

No que toca à Assembleia Municipal, o primeiro lugar da lista cabe ao CDS-PP, tal como outros dois entre os primeiros nove, sendo os restantes indicados pelo PSD. Os outros partidos da coligação terão três lugares elegíveis e até ao 21.º lugar entrariam mais três deputados municipais centristas e seis social-democratas. Em 2017 a lista do CDS-PP elegeu nove deputados municipais, incluindo membros do PPM e MPT, e o PSD colocou oito, além dos seus quatro presidentes de junta de freguesia que são membros desse órgão por inerência.

Nota: A primeira versão desta notícia identificava erradamente o candidato do CDS-PP à Junta de Freguesia de Alvalade em 2017 como sendo o atual presidente do partido, Francisco Rodrigues dos Santos.

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