[weglot_switcher]

Acusações, contradições e promessas: a primeira semana do presidente Trump

Uma semana depois de ter tomado posse, o novo presidente norte-americano afirma que “o tempo para conversa vazia acabou; agora chegou a hora de agir”. Entre decretos, entrevistas, polémicas e muitos, muitos tweets, reveja os melhores momentos (ou não) da primeira semana de Donald Trump na Casa Branca.
  • Jonathan Ernst/REUTERS
28 Janeiro 2017, 10h49

A primeira semana de Donald Trump enquanto presidente marca o início de um novo capítulo na história dos Estados Unidos. Que o diga o Governo alemão, que ousou afirmar que com a tomada de posse de magnata nova-iorquino se iniciou uma “nova desordem global”.

E desordem bem podia ser a palavra escolhida para resumir os cinco primeiros dias do governo norte-americano agora que Trump tomou as rédeas. Assim como compromisso e integridade (ou falta dela). Ora espreite a agenda política desta semana do novo presidente.

 

DIA 1 (Segunda-feira)

O dia começou cedo para Donald Trump. Entusiasmado com o primeiro dia de trabalho à frente da Casa Branca, o Twitter do magnata nova-iorquino foi atualizado, pouco depois das 6 horas da manhã: “Semana ocupada focada em empregos e segurança social”.

No topo da agenda: um pequeno-almoço seguido de reunião com os “melhores empresários” do ramo da indústria, marcada para as 9h00. Desta reunião saiu a promessa de cortar as regulamentações às empresas em 75% e a adoção de um imposto pesado para todas as indústrias que levem para fora as suas indústrias.

Ao mesmo tempo, Donald Trump anunciou a retirada dos Estados Unidos da Parceria Transpacífico e mais à tarde, durante um encontro com sindicatos, viria a anunciar também a saída da NAFTA, o acordo de livre comércio entre os Estados Unidos, Canadá e México.

“Queremos trazer de volta a indústria ao nosso país. É por essa razão que estou eu aqui sentado e não outra pessoa qualquer”, reitera o presidente norte-americano.

E para os insatisfeitos com a nova administração, Donald Trump não tem meias palavras: “fossem votar”. No final do dia, durante a reunião com os líderes do Congresso do Partido Republicano e do Democrata, Donald Trump voltou a levantar o seu dedo acusatório e a assegurar que se não fossem os votos de três a cinco milhões de imigrantes a viver ilegalmente no país, teria ganho não só no Colégio Eleitoral, mas também no voto popular, em que Hillary Clinton ficou 2,9 milhões à frente.

 

DIA 2 (Terça-feira)

Depois de um dia dedicado às grandes empresas norte-americanas, foi a vez de olhar apenas para o setor automobilístico. Até porque, depois de vários ataques ao setor, por produzir os seus veículos no vizinho México, a relação de Trump com as empresas automóveis não era propriamente a mais favorável a grandes negócios.

Durante a manhã, reunido com os diretores dos fabricantes de automóveis General Motors, Ford e Fiat-Chrysler , Donald Trump garantiu que iria reduzir os impostos para facilitar o regresso das suas fábricas aos Estados Unidos.

Para além disso, comprometeu-se a diminuir as regulações sobre o meio ambiente aplicadas às empresas e a fazer avançar a construção de dois controversos oleodutos, incluindo o Keystone XL, projeto que foi rejeitado pela anterior administração de Barack Obama. Na altura, Obama terá argumentado que arrancar com o projeto iria enfraquecer a liderança americana na luta contra as alterações climáticas. Apesar de contraditório, Donald Trump assegura ser “em grande medida um ambientalista”. Vamos ver o que pensa a ONU sobre estas novas medidas.

 

DIA 3 (Quarta-feira)

A polémica voltou à Casa Branca. Ao início da manhã, Donald Trump assinou o controverso decreto que dá início à construção do muro “grande e lindo” na fronteira do país com o México. Objetivo: travar a entrada de imigrantes ilegais “que trazem as drogas, o crime e as violações” vindos do México.

Mas há uma pergunta que se impõe. Quem irá arcar com os custos da infraestrutura? “O México”, esclarece Donald Trump de forma perentória, embora admita que, numa primeira fase, possam ter de ser os contribuintes norte-americanos a fazê-lo. O presidente do México, Enrique Peña Nieto, reprova a decisão e lamenta o rumo que as medidas da ‘Trumplândia’ tomaram.

E ao terceiro dia, Donald Trump falou ainda à comunicação social.

Depois das acesas acusações de “falta de honestidade” e produção de “notícias falsas” do novo presidente a alguns meios de comunicação norte-americanos (como a CNN e a BuzzFeed), a cadeia televisiva ABC News foi a escolhida para ser recebida por Donald Trump na Sala Oval.

Na sua primeira entrevista após a tomada de posse, o polémico Trump voltou a dar que falar (e, não pelas melhores razões). Entre as poucas novidades do seu discurso, Donald Trump afirmou estar a ponderar a reintrodução de algumas técnicas de tortura, como o waterboarding (afogamento simulado), pode vir a ser uma realidade nos próximos meses. “Devemos combater o fogo com o fogo”, sustenta o magnata.

Talvez seja pertinente recordar que este método de obter informações à força dos prisioneiros, muito popular durante o mandato de George W. Bush e a sua “guerra ao terror”, foi banido durante a administração Obama, em 2009. Eliminar a herança deixada pelo seu antecessor parece ser o verdadeiro foco principal de Donald Trump neste mandato.

Mas há mais. Fazendo orelhas moucas às declarações do presidente mexicano, o presidente Trump voltou a afirmar que o muro “que será bom para os dois países” será pago pelo México e “estará concluído tão rapidamente quanto for possível; dentro de meses”.

 

DIA 4 (Quinta-feira)

A digestão do dia anterior foi difícil não só para os mexicanos mas também para muitos norte-americanos, que acusam Donald Trump de recuar aos tempos medievais com as suas políticas.

O azedar da relação com o vizinho México, levou o presidente norte-americano a escrever no Twitter que “se o México não quer pagar por este muro tão necessário, então é melhor cancelar o encontro”. Dito e feito. Ao início da manhã, o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, anunciava o cancelamento da visita aos Estados Unidos, marcada para dia 31.

Em declarações aos republicanos do Congresso na Filadélfia, Trump afirmou que a decisão de cancelar o encontro com Peña Nieto era mútua e repetiu as críticas ao acordo livre comércio entre os Estados Unidos, Canadá e México (NAFTA), descrevendo-o como “um terrível desastre para a América desde o seu início”.

“O México aproveitou-se dos Estados Unidos da América durante demasiado tempo. Enormes défices comerciais e a pouca ajuda na muito débil fronteira, isso deve mudar, agora”, escreveu Trump na sua conta pessoal do Twitter, a sua rede social favorita para emitir mensagens.

Donald Trump parece, no entanto, desconhecer os números. O México é o terceiro maior importador de bens dos EUA, logo a seguir ao Canadá e à China. Em 2015, foram transacionados mais de 531 mil milhões de dólares (370 mil milhões de euros) do México para os Estados Unidos.

 

DIA 5 (Sexta-feira)

O último dia da semana de trabalho do novo presidente foi igualmente atribulado. No seu primeiro encontro com um dirigente estrangeiro, Donald Trump endereçou o convite a primeira-ministra britânica, Theresa May, a chosen one.

Durante o encontro, seguido da primeira conferência de imprensa conjunta (a primeira desde que Trump foi empossado), Donald Trump salientou importância da ligação entre os dois países, que “nunca foi tão forte”, e afirmou que “um Reino Unido livre e independente é uma bênção para o mundo”.

Dirigindo-se diretamente a Theresa May, Trump diz-se “ansioso” por fortalecer “os nossos lanços e os nossos interesses comerciais”. “Esperam-nos dias gloriosos, para os nossos povos e para os dois países”.

Kim Darroch, o embaixador britânico em Washington acredita que Donald Trump e Theresa May serão capazes de recriar “um relacionamento Thatcher-Reagan”, os dois líderes que na década de 80 garantiram uma reaproximação entre velhos aliados, entretanto resfriada. Vamos ver se as promessas de amizade eterna estão para durar.

Esta sexta-feira, Donald Trump confirmou também ter estado ao telefone com o seu homólogo mexicano, Enrique Peña Nieto. Na conversa de cerca de uma hora, assegurou que os dois países vão trabalhar no sentido de criar uma “relação nova e mais justa”.

Aproveitando a tomada de posse do novo Secretário da Defesa, o General James Mattis, no Pentágono, o novo presidente norte-americano assinou uma série de novas medidas, extremas, para “manter os radicais do autoproclamado Estado Islâmico longe dos Estados Unidos da América”.

“Não os queremos cá. Queremos assegurar que eles não deixamos entrar no nosso país as ameaças que os nossos homens e mulheres estão a combater no exterior”, disse Donald Trump, sem no entanto especificar o conteúdo do documento. “Só queremos deixar entrar no nosso país aqueles que nos apoiam e adoram profundamente o nosso povo”.

No que vão resultar estas políticas a ver vamos. Mas, por agora, the Trump show must go on.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.