Passaram já três anos desde que ocorreram os trágicos incêndios que assolaram o nosso país, em que se perdeu a vida de 117 pessoas, dezenas ficaram feridas, morreu um número incalculável de animais, perderam-se bens e arderam mais de 53 mil hectares de território, dos quais 20 mil hectares de floresta. Esta tragédia acentuou fragilidades, já bem conhecidas, seja no planeamento florestal (ou ausência dele), seja no combate aos incêndios. Mostrou-nos que o combate será cada vez mais difícil, devido aos eventos climáticos extremos.

Contudo, não se vencem os incêndios no seu combate, só na sua prevenção. É impossível um dispositivo de combate aos incêndios dar resposta cabal ao acréscimo da quantidade e intensidade dos incêndios, como a realidade já nos veio demonstrar. A primeira linha de actuação tem que ser, sem dúvida, a prevenção. E aqui Portugal tem grandes desafios a enfrentar, dado que, para além de gastar quatro vezes mais no combate aos incêndios do que na prevenção, a larga maioria da propriedade florestal é privada, com extensas áreas abandonadas e inúmeros proprietários.

Recentemente foi aprovado pelo Governo o Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais (PNGIFR), que estabelece como meta que o país consiga reduzir para metade, nos próximos dez anos, a área anualmente ardida em incêndios rurais, prevendo um investimento de 500 milhões de euros (público e privado) para a sua execução. Este plano remete para o (ressuscitado?) Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT) que, por sua vez, reconhece a pressão sobre os ecossistemas, populações e economia do efeito das alterações climáticas.

Todavia, o mais recente plano do Governo – de uma longa lista de planos baseados em intenções – não dá (mais uma vez) ao país a resposta necessária. Peca por enunciar princípios e metas sem concretizar medidas. Mais, sacode as responsabilidades do Estado para as populações, quando não é a estas que cabe resolver o problema do reordenamento florestal no país.

Urge adaptar a nossa floresta aos desafios da nova realidade climática, através de um efectivo reordenamento florestal, apostando em espécies autóctones e mais resistentes aos incêndios, potenciando o aumento da capacidade natural das florestas como sumidouros de carbono, reforçando o papel da bioeconomia e apostando na fiscalidade verde para uma transição para uma economia hipocarbónica.

Mas se em sede orçamental é possível quantificar o custo do combate aos incêndios, o cálculo mais importante não tem sido feito: o do valor dos serviços prestados pelos ecossistemas e pela floresta.

Ainda que a este tempo não exista moeda de troca para os benefícios decorrentes de um planeamento e de uma gestão florestal eficazes, é inegável que a médio e longo prazo só teremos a ganhar, a começar pela protecção das populações e da biodiversidade existente, fazendo diminuir os custos do combate aos incêndios, criando oportunidades de trabalho na economia verde e ainda vencendo uma das batalhas mais importantes dos nossos tempos: a mitigação dos efeitos das alterações climáticas.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.