1. Tenho visto com alguma estranheza as declarações de Rui Rio a propósito do voto dos eleitores no estrangeiro, onde normalmente PS e PSD dividem os quatro deputados.

É uma polémica espúria porque nada de novo irá sair, uma vez que os dois maiores partidos continuam com a mesma medição e força. Esta é uma prova acabada que mesmo depois de uma retumbante derrota eleitoral, Rui Rio faz piadas no Twitter, pronuncia-se sobre os votos dos emigrantes e está completamente alheado da realidade do país.

Um líder da oposição, mesmo que esteja de saída, tem a obrigação moral e política de dizer ao que vem, comentar o que se passa e fazer alertas sobre o próximo Governo de maioria que ainda não tomou posse. Nem que seja para abrir caminho para o seu sucessor, seja ele Paulo Rangel, Luís Montenegro, Miguel Pinto Luz ou, por desistência de todos estes, o autarca Ribau Esteves.

A verdade é que Rui Rio está no PSD como sempre esteve, a ocupar um lugar sem uma posição crítica quanto à governação socialista e sem fazer qualquer alerta que uma pessoa com formação em economia deveria fazer.

O INE apresenta 6,6% a nível de desemprego para 2021, ao mesmo tempo que cresce o desemprego entre os jovens licenciados. O país cresceu 4,9% em 2021 em termos de PIB, mas está a divergir da União Europeia com crescimento médio de 5,2%, sendo que os nossos principais parceiros têm crescimentos exponenciais. Estes são apenas alguns exemplos.

A forma como a crise Rússia/Ucrânia está a afetar a economia mundial – e a portuguesa não escapará –, a agitação nas Bolsas de Valores, a subida nas taxas de juro, o aumento escandaloso do preço das matérias-primas, a fuga de mão de obra de qualidade e também da menos qualificada de Portugal para o estrangeiro, e a quase falência das grandes construtoras portuguesas por falta de reequilíbrio financeiro dos contratos de empreitada, a somar a um parlamento com um Governo liderado por “jovens turcos” de António Costa, com uma oposição comandada pelo Chega e, a espaços, pela IL – nada disto interessa a Rui Rio.

Por este caminho, Rio tal como Francisco Rodrigues dos Santos, que foi o coveiro do CDS, arrisca-se a ser o mesmo a abrir a cova para o PSD se deitar.

O PSD não é o CDS, tem uma posição muito relevante na sociedade portuguesa e no mundo autárquico, é um partido de governo por natureza, do centro-esquerda ao centro-direita, coisa que Rio não entendeu. E cada dia que passa com Rio na liderança e sem a marcação de eleições diretas e o respetivo congresso, é um dia perdido para o PSD e é um dia que mais tarde se irá pagar com juros. Obviamente, demita-se – tal como prometeu na noite eleitoral.

2. A necessidade de reequilíbrios financeiros na generalidade das empresas de construção civil e obras públicas vai ser o grande desafio do país para 2022. E não apenas pela criação de emprego que o sector representa, mas pelo facto de ser um sector de atividade que serve de porta-aviões de muitos outros sectores de atividade. O próprio investimento público pode ficar parado caso os grandes grupos optem por não ir a concursos onde sabem que os valores de base para a contratação são insuficientes.

Este é um problema grave quando sabemos que apenas teremos Governo daqui a mês e meio e Orçamento do Estado em meados do ano.