São atribuídas muitas citações célebres a Albert Einstein, mas uma das que elejo como preferida é a que diz respeito à sua capacidade de ver os problemas em perspetiva. A certa altura, disse: “uma pessoa inteligente resolve um problema, mas um génio previne-o”.

A prevenção teima em fazer parte de um léxico que não encaixa na cultura portuguesa. “Logo se vê”, “vai-se andando”, “quem vier atrás que feche a porta”, são vocábulos que pululam na cultura latina. Não estou a criticar gratuitamente pois, tantas vezes a capacidade de adaptação rápida (vulgo, “desenrasca”), na nossa cultura, tem-se mostrado eficaz em situações extremas. Esta maneira de estar prolifera no dia a dia, na sociedade, nas organizações, e entra em choque frontal com um modo de estar mais sóbrio, diria, frugal, que caracteriza os povos da Europa central e do norte.

Temos a bater-nos à porta um envelope gigantesco de estímulo da União Europeia à recuperação económica do espaço comunitário. E a Portugal cabe um valor significativo quando comparado com os estímulos correntes, ou mesmo com as verbas que foram atribuídas no plano de adesão à CEE. É o resultado de uma intensa negociação ocorrida entre o eixo franco-alemão, a que se associaram os países do sul, e os apelidados países frugais. Não fosse o peso do tal eixo central (que politicamente fez a leitura da importância geoestratégica de uma solução), muito provavelmente assistiríamos, uma vez mais, a um agudizar do confronto entre os “remediados” do sul e os “normativos” do norte.

15,3 mil milhões de euros de atribuição prevista de subvenções no Plano de Recuperação Europeu, mais uma reserva de 10,8 mil milhões de euros a título de empréstimo já nos criaram um problema: como utilizar o dinheiro de forma comprovadamente produtiva? Como escrutinar a aplicação de verbas que são “gastos” das que são “investimento produtivo”? Os exercícios das décadas anteriores têm provado que somos francamente medíocres a fazer a distinção. As opções de aplicação de fundos recorrentemente se têm transformado mais em gasto do que propriamente em geração de valor, a avaliar pelo anémico crescimento do PIB e pelos rankings de geração de riqueza e de produtividade que nos colocam na segunda divisão europeia.

Porque, na realidade, não temos cultura de acumulação. O mesmo é dizer que a nossa vocação não está voltada para a geração de capital. Porque, em toda a nossa história, sempre fomos “remediados”. E, quando saímos das nossas portas, assumimo-nos mercantis. Fomos “desenrascados”. Raramente fomos poupados, na perspetiva da mais básica essência económica que encontramos nas equações fundamentais de equilíbrio macroeconómico. S=I, ou seja, Poupança igual a Investimento.

E, como há uns que conseguem acumular mais do que outros, pela sua capacidade empreendedora e frugalidade, pelas condições que foram criando ao longo da sua história para valorizarem os seus países, terras e gentes, então a poupança gerada inevitavelmente se traduz em empréstimo aos outros que não o conseguem, ou em verbas “a fundo perdido” apelando ao interesse da coesão e solidariedade.

Desta vez, coloco as “fichas” todas na capacidade que as novas gerações de gestores e de empreendedores demonstraram ter resultado da última crise financeira. As centenas de exemplos de negócios que floresceram do nada acalentam uma certa esperança de que, desta vez, vai resultar. Um dia, sentar-nos-emos à mesa de umas quaisquer negociações assumindo o papel de país solidário, fomentador da coesão, ajudando ativamente quem mais precisa. Este é o sonho de um Portugal genial.